BRASÍLIA – O presidente da Câmara Municipal de Jucás, no interior do Ceará, Eúde Lucas (PDT), afirmou que o autismo é curado “na peia” e “na chibata”. O vereador citava, na sessão desta quarta-feira, 20, o caso da atriz e cantora Letícia Sabatella, que revelou ter sido diagnosticada tardiamente, aos 52 anos, com transtorno do espectro autista (TEA).
Lucas afirmou que teve o transtorno na infância, mas disse ter sido curado por seu pai a partir de agressões físicas. “Tem uma declaração que os artistas, os autores, sei lá... Está rondando. Eu digo ‘eu era autista’, só que meu pai tirou o autista na peia. Naquele tempo tirava autista era na chibata, porque era um menino meio traquina”, disse o presidente da Câmara de Jucás.
Autismo é uma condição permanente, que não tem cura. Não há dados exatos sobre o tamanho da população com o transtorno no Brasil. O Centro de Controle e Prevenção da Organização Mundial de Saúde (OMS) estimou, em 2018, que uma em cada 44 pessoas tem a condição no mundo. No Brasil, isso equivale a cerca de 4,8 milhões de pessoas.
Em Jucás, cidade do interior do Ceará, o vereador Eúde Lucas (PDT) afirmou que autismo é curado na "chibata". O presidente da Câmara do município comentava, na sessão, o caso da atriz Letícia Sabatella, que descobriu de maneira tardia, aos 52 anos, ser uma pessoa com Transtorno… pic.twitter.com/YhZFN1OiHl
Em uma entrevista concedida ao programa Fantástico, da TV Globo, no último domingo, 17, Sabatella disse que descobriu tardiamente ser uma pessoa com TEA. Segundo a atriz, que relembrou ter tido dificuldades para se socializar na infância e adolescência, o diagnóstico foi uma “experiência libertadora”. “Traz alívio pra quem passa a vida se achando diferente e incompreendida”, disse.
Vereador diz que autismo se cura na 'chibata' e na 'peia' durante discurso no Ceará
O Estadão procurou o vereador Eúde Lucas, mas ainda não obteve retorno.
O que é o transtorno de espectro autista?
De acordo com o Ministério da Saúde, o transtorno de espectro autista é um “distúrbio caracterizado pela alteração das funções do neurodesenvolvimento, interferindo na capacidade de comunicação, linguagem, interação social e comportamento”. É comum a pessoa ter reprodução de ações repetitivas, hiperfoco para objetos específicos e uma restrição de interesses.
Normalmente, a suspeita inicial do TEA ocorre na infância, por meio de consultas na Atenção Primária à Saúde (APS). Porém, assim como no caso de Sabatella, o diagnóstico do transtorno pode ser feito em todas as etapas da vida. Não existe uma cura, porém a descoberta permite o desenvolvimento de práticas para estimular a independência e a promoção da qualidade de vida dessas pessoas.