Além do escritório de advocacia que defende a família do presidente Jair Bolsonaro e até abrigou o notório Fabrício Queiroz durante as investigações da rachadinha envolvendo o senador Flávio Bolsonaro, o advogado Frederick Wassef mantém aberta, há mais de uma década, uma misteriosa empresa de consultoria em São Paulo.
A Union Consultoria de Negócios e Participações S/A foi adquirida por Wassef em 2010, em parceria com o empresário Leo Szlezynger, acionista do Grupo Unigel, considerado o segundo maior conglomerado do ramo petroquímico do Brasil.
Em novembro de 2019, já no governo Bolsonaro, a Proquigel Química, subsidiária do Grupo Unigel, arrendou duas fábricas de fertilizantes da Petrobras, na Bahia e em Sergipe, pelo período de dez anos.
O valor do negócio informado pela estatal foi de R$ 177 milhões, mas o contrato ainda é mantido sob sigilo. A Unigel espera faturar até R$ 2 bilhões por ano com as duas unidades, que estavam desativadas e foram privatizadas pela Petrobras no atual governo.
Recentemente, o mesmo grupo manifestou interesse em adquirir participação em outra fábrica de fertilizantes da Petrobras em Mato Grosso do Sul, que está inacabada. A possibilidade surgiu depois de a estatal desistir de uma negociação com a empresa russa Acron.
Esse ramo de negócio ganhou importância e perspectiva de lucros polpudos nos últimos tempos. Fertilizantes, como se sabe, são largamente utilizados pelo setor agrícola e o Brasil ainda depende muito da importação de insumos que estão sob ameaça de escassez por causa da Guerra da Ucrânia — a Rússia é uma das principais fornecedoras.
Não se tinha notícia, até agora, da atuação de Frederick Wassef como consultor em gestão empresarial, atividade que é declarada pela empresa à Receita Federal.
A Union Consultoria continua ativa junto ao Fisco e o vínculo de Wassef com o grupo que arrendou as fábricas de fertilizantes da Petrobras também.
Candidato a deputado federal nas eleições deste ano, o advogado do clã Bolsonaro não incluiu a firma de consultoria na declaração que entregou à Justiça Eleitoral.
Em janeiro de 2021, Wassef registrou uma ata de assembleia da companhia substituindo Leo Szlezynger, que é acionista e filho do fundador da Unigel, por Agnes Zaveri, que é assistente-executiva da diretoria da empresa petroquímica.
À coluna, Szlezynger afirmou, por meio da assessoria da Unigel, que conhece Frederick Wassef há mais de 30 anos e que a empresa adquirida por eles em 2010 “acabou por nunca prosperar ou celebrar qualquer negócio”. Segundo o empresário, a Union está “inativa desde sua fundação”.
Szlezynger disse que pediu o fechamento da Union em janeiro de 2021 e que colocou sua assistente para fazer o acompanhamento “administrativo e burocrático” da empresa “até a conclusão do processo de encerramento”, o que ainda não ocorreu.
O empresário nega que a sociedade tenha relação com eventuais negócios de seu grupo com a Petrobras ou outros setores do governo. “Não há, portanto, nenhuma vinculação desta empresa ou da relação passada com o sr. Wassef a fatos de qualquer espécie relativos a outras atividades e negócios aos quais eu esteja ligado direta ou indiretamente, na posição de acionista”, afirma Szlezynger.
A Unigel, por sua vez, negou haver relação do grupo com o advogado da família Bolsonaro. A empresa sustenta que “jamais estabeleceu ou possui vínculo contratual com a Union Consultoria”. A companhia diz ainda que o arrendamento das fábricas de fertilizantes da Petrobras seguiu todos os trâmites legais, dentro de um processo licitatório.
Procurado, Frederick Wassef não respondeu aos questionamentos feitos pela coluna acerca da empresa de consultoria e de sua relação com o acionista e com a funcionária da Unigel. Limitou-se a fazer ameaças e a dizer que se trata de “mentira”, embora sua participação esteja registrada em documentos oficiais. “Estou te avisando faz tempo para me deixar em paz”, disse Wassef ao repórter.