A escolha do Catar como sede da Copa do Mundo de 2022 deixou o mundo do futebol estupefato. Nunca um país árabe, tão pequeno em território e sem nenhuma tradição no futebol tinha vencido a eleição na Fifa para receber o evento esportivo mais importante do planeta.
A partir de dezembro de 2010, quando foi anunciada a escolha, o país começou a se preparar para realizar o torneio com a promessa de que seria diferente de todos os que aconteceram no passado. Gastou US$ 200 bilhões para isso.
É verdade. A Copa do Catar oferece aspectos que jamais foram vistos e possivelmente não se repetirão no Mundial. E nem todos são positivos.
Este foi um dos atrativos mais oferecidos pela organização e pela Fifa. O conceito de “Copa de bolso”, o que possibilitaria ao torcedor comum ver mais de um jogo no mesmo dia. Dependendo da situação, até mais de dois.
No Catar, é possível ir do estádio Education City para o Al Rayyan de forma rápida. São cerca de 10 quilômetros. Das oito arenas, cinco estão concentradas em Doha. As outras três foram construídas em cidades vizinhas e de fácil acesso: Al Khor, Lusail e Al Wakhra.
Apenas as estruturas erguidas em Al Thumama, Al Bayt e Al Janoub não têm metrô próximos e, para essas, o comitê organizador montou um eficiente esquema de transporte com centenas de ônibus gratuitos.
Pela primeira vez a Fifa fez tabela concentrando tantos jogos no mesmo dia. Em sete datas aconteceram quatro partidas em horários diferentes. Os dois estádios mais distantes entre si, Al Janoub e Al Bayt, estão separados por 56 quilômetros.
O medo de não haver quartos de hotéis suficientes para todos os turistas interessados em ir ao Mundial fez com que o comitê organizador fechasse parceria com a MSC. A empresa de cruzeiros atracou três transatlânticos no porto de Doha que servem como hospedagem flutuante para 28 mil pessoas.
As cabines mais caras custam R$ 450 mil por noite.
O mercado de Souq Waqif é um dos pontos turísticos mais importantes de Doha e onde mais se concentram torcedores de diferentes países durante a Copa. Perto dele está no Falcon Souq, o complexo de comércio de falcões, a ave nacional.
No local acontecem os treinamentos de velocidade, visão e caça para os animais adestrados e os que são vendidos na região.
Mas por causa da Copa do Mundo, o governo de Doha proibiu os treinos, o que causa reclamações públicas de donos de lojas e de adestradores contra o torneio de futebol.
O sistema de metrô de Doha tem um cartão de fidelidade para clientes preferenciais. Chama-se, não por acaso, “gold”. Eles viajam em vagões exclusivos, com cadeiras individuais almofadadas e impecavelmente limpos. Não há sequer lugar para se segurar porque ninguém viaja de pé.
Por causa da cultura islã, o metrô também tem vagões exclusivos para mulheres e famílias.
Durante a Copa do Mundo, para aumentar a capacidade do sistema, tudo isso foi abolido e liberado para qualquer usuário.
A tradição do futebol é tão escassa no país que em nenhum momento a organização da Copa pensou em preservar os estádios construídos ou reformados para a competição.
Entre os oito, apenas o Khalifa International terá sua capacidade de 50 mil pessoas mantida. A maioria será reduzida para 20 mil e utilizada por times da liga local. O 974 e o Lusail, este último onde vai acontecer a final, vão desaparecer por completo.
O público no Catar se animou para o primeiro jogo da sua seleção na história das Copas, contra o Equador. Era também a abertura do torneio.
Quando a limitação técnica da equipe ficou clara contra os sul-americanas, os torcedores começaram a ir embora antes da metade do segundo tempo. Quando soou o apito final, boa parte do estádio de Al Bayt estava deserto.
A não ser no Souq Waqif ou em linhas de metrô que dão acesso a estádios nos dias de jogos, não há clima de Mundial no Catar. As cenas de dezenas milhares de pessoas aglomeradas de forma espontânea para festejar a realização do evento são inexistentes, a não ser em fan fests.
O Catar não divulgou o número de pessoas no país por causa do futebol, mas este não parece tão grande quanto na Rússia ou no Brasil, por exemplo.