Presentes em cargos de alto e baixo escalões do governo do presidente Jair Bolsonaro, as Forças Armadas viram a confiança da população brasileira na instituição recuar desde que Bolsonaro assumiu a Presidência da República, embora o saldo ainda permaneça positivo: 70% dos brasileiros demonstram algum grau de confiança nos militares.
A tendência, já observada em outros levantamentos recentes, é registrada pela pesquisa de opinião pública anual “A cara da democracia”.
Os dados apontam que o percentual da população dizendo não confiar nas Forças Armadas era de 21% há quatro anos, e subiu oito pontos percentuais nos anos Bolsonaro, atingindo 29%.
Desde 2021, esse grupo ultrapassa numericamente o índice daqueles que declaram confiar muito na instituição, que passou de 34%, em 2018, para 25% este ano.
Instituições que costumam ser pior avaliadas pela população registraram recuperações. A confiança nos partidos políticos, por exemplo, subiu no mesmo período. Se, em 2018, 77% declaravam não confiar nas siglas, hoje o índice engloba 53% dos entrevistados.
Mudança em menor grau foi observada também na avaliação do Congresso: o percentual dos que não confiam no parlamento passou de 54%, em 2021, para 46% este ano.
Os recortes por segmentos sociais revelam que a desconfiança com as Forças Armadas é maior nos grupos em que Jair Bolsonaro tradicionalmente é pior avaliado. Um dos destaques é a discrepância na avaliação de homens e mulheres.
Enquanto o percentual dos que não confiam nos militares entre eles é de 25%, o índice chega a 34% entre as mulheres, segmento que rejeita mais o governo Bolsonaro e já se transformou em um dos focos de sua campanha à reeleição, com inserções de propaganda especialmente voltadas para o público feminino.
Professor da da Escola de Ciências Sociais da da Fundação Getulio Vargas (FGV/CPDOC) e especialista no estudo dos militares no Brasil, Celso Castro avalia que o recuo na confiança das Forças Armadas se deve à maior presença de militares na política no governo Bolsonaro do que em anos anteriores, e a consequente exposição na mídia.
— Os dados mostram que essa participação e a consequente exposição têm sido danosas à imagem das Forças Armadas. Mesmo assim, a instituição mantém-se com um elevado grau de confiabilidade — analisa.
Castro destaca que, historicamente, as Forças Armadas têm sido a instituição melhor avaliada no quesito geral da confiança. Isso se deve a fatores como sua presença por todo o território do país e “vinculação simbólica às ideias de Nação e Pátria”.
Os militares geram mais desconfiança, ainda segundo a pesquisa, também entre os de menor renda e menos escolarizados, estratos em que o ex-presidente Lula, principal adversário do atual presidente, tem melhor desempenho eleitoral.
No segmento com renda familiar de até dois salários mínimos, 33% afirmaram não confiar nas Forças Armadas. Entre os mais ricos (com renda acima de cinco salários), o percentual cai para 24%.
Conduzida pelo Instituto da Democracia (IDDC-INCT), a pesquisa entrevistou presencialmente 2.538 eleitores em 201 cidades em todas as regiões do país entre os dias 4 e 16 de junho, e foi financiada pelo CNPq e Fapemig. A margem de erro total é de 1,9 ponto percentual, e o índice de confiança é de 95%.