Da longa espera à doce rotina: o Brasil é bicampeão olímpico de futebol masculino. Com o fim das frustrações em 2016, a seleção brasileira teve mais um capítulo dourado neste sábado (7), em Yokohama, o palco do penta de 2002, com a vitória sobre a Espanha, por 2 a 1, na prorrogação, após empate no tempo normal.
Os gols do Brasil foram de Matheus Cunha no tempo normal, e Malcom na prorrogação. Oyarzabal descontou para os espanhóis no segundo tempo regulamentar.
Até hoje, Brasil e Espanha tinham um ouro cada no futebol masculino, ambos conseguidos quando os países sediaram os Jogos. Com o bicampeonato consecutivo o Brasil iguala a Argentina, que conseguiu o bi em 2004 e 2008, e o Uruguai, ouro em 1924 e 1928. Grã-Bretanha (1908 e 1912) Hungria (1984 e 1968) completam a seleta lista.
André Jardine, um especialista em futebol de base, cumpriu a sua missão olímpica mesmo com desfalques cruciais ao seu plano, como a perda de Vinicius Jr, Gerson, Rodrygo e Pedro. Convocou Dani Alves, que fez bom torneio, e montou um ataque de bastante movimentação.
Depois de regredir um pouco em desempenho na hora do mata-mata, contra Egito e México, o Brasil reencontrou um futebol mais intenso e com lampejos de brilho na decisão em Yokohama, sobretudo no primeiro tempo. Quando abriu o placar, no final da primeira etapa, já merecia estar na frente.
O atacante Matheus, revelado pelo Coritiba e radicado na Alemanha, era o menos conhecido pelo brasileiro que não acompanha muito o futebol da Europa. Quem o conheceu em Tóquio 2020, só pode ter gostado. Foi dele o gol que abriu o placar na final.
Matheus sentiu a coxa contra o Egito, e desfalcou a seleção diante do México. Foi a partida na qual o ataque menos funcionou em termos de movimentação e criação de espaços. Como joga fora e dentro da área com a mesma fluidez, fez falta.
Pela lesão, era dúvida até momentos antes do jogo. Jardine confiou na sua escalação mesmo sem estar 100% fisicamente. Seu gol, aos 47 minutos do primeira etapa, após um cruzamento excelente de Dani Alves, que salvou uma bola quase perdida, foi comemorado em tom de desabafo.
O momento da partida era delicado, porque Richarlison havia desperdiçado uma penalidade 8 minutos antes. Matheus Cunha foi atingido com violência pelo goleiro Simón, e deu a chance ao camisa 10 de visitar a marca da cal.
Mas a cobrança foi alta, sem direção. A seleção brasileira vivia o seu melhor momento no jogo, e o chute para fora parecia servir de ponto final para essa pressão. O gol mudou o ambiente e o discurso nos dois vestiários durante o intervalo.
Richarlison, no começo da etapa final, voltou a se lamentar na frente de Unai Simón: após excelente movimento individual, tirou os zagueiros do lance e chutou firme. O goleiro espanhol desviou a bola, que bateu no travessão e pingou quase em cima da linha. A infeliz jornada de Richarlison abriria espaço para um herói improvável.
Poucos minutos depois, este lance, desperdiçado por centímetros, se tornaria um desfalque pesado para o andamento do confronto.
Carlos Soler, meia forte e alto do Valência, entrou no intervalo na vaga de Merino, da Real Sociedad, que fez um razoável torneio, mas uma fraca decisão. Asensio, que atuou na ponta direita, também saiu. Bryan Gil entrou e jogou mais pela esquerda.
Foi justamente no espaço onde atuava Asensio, e onde Arana tinha trabalho, que Soler achou espaço duas vezes. Na segunda, aos 16 da etapa final, o cruzamento foi perfeito no segundo pau. Era o empate chegando.
Oyarzábal se antecipou a Dani Alves e chutou de primeira. Estava empatado o duelo e inaugurado o melhor momento do time espanhol na final. O Brasil reagiu mal ao gol sofrido e, na hora do apito final, já não merecia destino melhor que a prorrogação.
Bryan Gil, aos 43, acertou uma bomba de fora da área que beijou o travessão. Pouco antes, em cruzamento "errado", a bola havia batido involuntariamente no mesmo poste. O apito final foi um alívio para o Brasil.
Richarlison deu um soco no ar assim que o árbitro encerrou o jogo. Seu semblante era de perigosa frustração. O pênalti perdido pesou, mas o domínio espanhol era a verdadeira má notícia daquele momento.
Sofrimento e um nome: Malcom!
Em olimpíadas, o Brasil tem relação complicada com a prorrogação. Foi neste período que Nigéria, em 1996, e Camarões, em 2000, eliminaram, com o sofrido gol de ouro, a seleção. Em 1988, a medalha de ouro escapou na prorrogação, contra a União Soviética. Um retrospecto com alguns traumas.
Curiosamente, André Jardine não fez nenhuma substituição nos 90 minutos regulamentares. Para a prorrogação, sacou Matheus Cunha, por esgotamento físico, e colocou Malcom em campo. O ponta, aberto pela esquerda, entrou muito bem e seria a diferença entre a medalha de ouro e a de prata.
A disposição de Malcom, porém, esbarrou no limite físico de seus companheiros. O Brasil melhorou no jogo, mas atletas como Antony e Claudinho davam sinais de não ter mais de onde tirar energia.
Mesmo assim, o time de Jardine retomou o protagonismo ofensivo e criou oportunidades de gol. A Espanha, afinal, também tinha os seus atletas no limite da fadiga e um preço a pagar pelo forte ritmo imposto na etapa final.
Isso ficou claro no lance do segundo gol brasileiro. Antony lançou Malcom, que engoliu Eric Garcia na velocidade e chutou cruzado para o fundo das redes. Era o placar definitivo da decisão olímpica.
Outras trocas: no Brasil, Reinier, meia, veio para os minutos finais. A Espanha apostou em Mir, um atacante muito alto e corpulento. Isso foi no intervalo da prorrogação, pouco antes do gol do título.
Com o Brasil na frente, a característica de Mir se tornou ainda mais explorável, pois a Espanha, sem perna para muita coisa, partiu para o desespero. Jardine colocou Gabriel Menino e Paulinho para um último gás. Foi o suficiente.
O Brasil campeão olímpico alinhou com Santos; Dani Alves, Nino, Diego Carlos e Arana; Douglas Luiz, Bruno Guimarães; Antony, Claudinho e Matheus Cunha; Richarlison. Entraram Gabriel Menino, Reinier, Paulinho e, claro, o cara do ouro: Malcom.