Está no imaginário coletivo do brasileiro ter uma seleção de futebol criativa, ofensiva e vencedora para torcer.
Ao longo dos anos, a partir de 1958, quando a primeira Copa do Mundo chegou ao país, este raciocínio idílico coincidiu com os fatos reais uma porção de vezes. Não foi o caso da seleção olímpica de 2016, que, em casa, apesar de vencedora e ofensiva, foi uma demonstração de que só a ideia, sem execução, não forma memória.
Após duas partidas nos Jogos do Rio de Janeiro, a seleção masculina olímpica havia acumulado dois 0x0, contra as frágeis seleções de África do Sul e Iraque. Para a terceira rodada, o Brasil, em Brasília, precisava da vitória para não acabar precocemente eliminado. E, para aquela ocasião, Rogério Micale escalou o Brasil em um inusitado 4-2-4.
Luan, Neymar, Gabigol e Gabriel Jesus foram escalados e, enfim, a vitória veio. O time, até então, atuava com Felipe Anderson no meio-campo pelos lados, sem Luan, e com Thiago Maia e Renato Augusto completando o setor. E, mesmo com o esquema tático agressivo e o placar dilatado de 4x0 feito sobre a Dinamarca, aquele time não marcou memória pela ofensividade.
Cinco anos depois, André Jardine vive no palco olímpico dilemas que podem aproximar, ou afastar, o seu trabalho do anterior. No caso das duas primeiras rodadas, um resultado coincidiu com a campanha de 2016 – neste domingo (25), a seleção empatou sem gols com a Costa do Marfim. As circunstâncias, além da atuação em si, é que são diferentes.
O susto que o Brasil levou na estreia, quando vencia por 3x0 a Alemanha, com atuação digna de um placar ainda maior, mas acabou sofrendo dois gols, passou a mensagem de que Jardine não pretende se defender colocando mais zagueiros em campo, e sim renovando as peças ofensivas. Mesmo com o 3x2 perigoso no placar, continuou no ataque – e fez o quarto gol por isso.
Já contra a Costa do Marfim, jogou 75 dos 90 minutos com um homem a menos, e Jardine optou, com a perda prematura, por fazer ajustes no posicionamento de atletas como o meia Claudinho.
Nem no intervalo o técnico trocou jogadores. Sem o seu 1º volante, Douglas Luiz, expulso, não colocou um atleta para fazer a função. Atuou sem – mais um indício do tipo de ideia que Jardine quer passar.
Em 2016, uma vez classificado, o Brasil superou a Colômbia nas quartas, mantendo a escalação do ataque, com Luan mais recuado. Na semifinal o Brasil bateu Honduras, e o quarteto seguiu escalado até a final, contra a Alemanha. O quarteto da vez, com Antony, Claudinho, Matheus Cunha e Richarlison, está em alta e deve ser mantido.
O Brasil enfrenta a Arábia Saudita na próxima quarta-feira (28), teoricamente o adversário mais frágil do grupo. Será mais uma oportunidade de ver ideia e execução de uma seleção que chegou em Tóquio disposta a praticar um futebol ofensivo, mesmo em momentos adversos.