Integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL), organização de extrema-direita que atua em todo o Brasil, foram flagrados enganando as pessoas nas ruas de Florianópolis, em Santa Catarina.
Eles se aproximam dos transeuntes solicitando dados pessoais, como nome completo, título de eleitor, zona eleitoral e assinatura, e, sem saber que estavam sendo filmados, alegam estar coletando as rubricas em apoio à tramitação de um Projeto de Lei no Congresso Nacional para supostamente melhorar a educação no Brasil.
“Estamos coletando a assinatura de quem concorda com o Projeto”, afirma o representante do MBL em determinado momento da abordagem.
Acontece que na ficha em questão não há nenhuma menção a nenhum Projeto de Lei e sim à fundação do partido político do MBL, que se chamará “Missão”.
“Ficha de apoiamento Partido Missão” e “declaro apoiar a criação desse partido em formação” são as frases que constam no papel. Importante ressaltar que eles não se apresentam inicialmente como membros do Movimento Brasil Livre.
As assinaturas coletadas pelo grupo serão, na realidade, encaminhadas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que exige, para a criação de novas siglas partidárias, um número mínimo de 547.455 apoios, distribuídos em pelo menos nove estados da federação. Elas não servirão para fortalecer a tramitação de nenhum Projeto de Lei, como os militantes do MBL tentam fazer parecer no diálogo.
Confrontados por não terem sido claros na explicação inicial, eles começam a rir e, finalmente, se revelam: “Eu sou do MBL, cara”.
Em outro momento da abordagem, ao serem acusados de estarem omitindo informações das pessoas que buscam obter a assinatura, um militante se justifica: “Meu discurso é super resumido porque eu preciso abordar o máximo de gente possível. (…) A verdade está escrita no papel”.
Assista ao vídeo da abordagem enganosa do MBL nesta reportagem.
MBL engana pessoas coletando assinaturas para fundar partido: “Para melhorar a educação”
“Eu faço parte de uma iniciativa chamada Missão. A gente tá criando a Missão para lançar um Projeto para o congresso federal (sic) para melhorar as escolas básicas do Brasil”, são as palavras iniciais do militante do MBL ao pedir assinaturas nas ruas. Na sequência do diálogo, ele cita uma série de propostas que acredita que melhoraria a aprendizagem de crianças e adolescentes, como “dois professores em sala de aula”, “aulas de ensino financeiro” e o “retorno do sistema de reprovação”.
De acordo com o discurso, “as crianças estão chegando na sétima série sem saber ler ou escrever direito” e “está sendo construída uma sociedade de imbecis coletivos”.
Dessa forma, o militante tenta convencer o cidadão a assinar a ficha que carrega em sua prancheta, sem citar, em nenhum momento, que a iniciativa se trata apenas da fundação de um novo partido político, tentando induzir as pessoas ao erro: acharem que estão apoiando um Projeto de Lei para melhorar a educação no Brasil.
O integrante do MBL apenas explica com mais clareza do que se trata a ficha de apoiamento quando pressionado por quem gravava o vídeo, o que demonstra que, nas situações em que não há nenhum questionamento por parte do cidadão comum, a verdade acaba passando batida.
Ao ser confrontado se a assinatura ajudaria um projeto a tramitar no Congresso, ele responde: “Vai estar ajudando a ‘Missão’ a ser criada. A gente vai lançar o Projeto depois que a gente ter o nosso peso. Hoje em dia, somos só uma ONG e queremos virar um partido justamente para termos representatividade. A gente não confia em nenhum deputado atual”. Vale lembrar que o MBL tem como principal liderança o deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil-SP).
O flagrante foi feito pela equipe parlamentar do vereador de Florianópolis Afrânio Boppré (PSOL), que garante que levará o caso ao conhecimento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “É um absurdo que um partido, mesmo antes de estar legalizado, já comece mentindo para as pessoas”, diz.
Chama atenção o discurso “antipolítica” que os integrantes do MBL desenvolvem na tentativa de angariar o maior número possível de assinaturas de pessoas que, muitas vezes, passam distraídas pelo local.
Isso porque o Movimento Brasil Livre disputa eleições desde 2016, ano em que ganhou notoriedade ao convocar manifestações pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT).
O grupo já elegeu vereadores, deputados estaduais e o deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil), mas aparentemente não confia em nenhum deles.