De acordo com o ex-ministro – que já havia deixado o governo Bolsonaro na época da entrevista, concedida ao programa Roda Viva, da TV Cultura –, o filho do presidente teria chegado, inclusive, a citar o nome de um delegado federal para a iniciativa.
“Um belo dia, o Carlos me aparece com um nome de um delegado federal e de três agentes, que seriam uma Abin paralela, porque ele não confiava na Abin”, disse Bebianno na ocasião.
Bebianno também disse não saber se o que ele chamou de “Abin paralela” teria sido implementado depois de sua saída do governo. Ele, que foi um dos coordenadores da campanha presidencial de Bolsonaro em 2018, foi o primeiro ministro a deixar o governo, exonerado no dia 19 de fevereiro de 2019.
Doze dias após a participação no Roda Viva, Bebianno morreu vítima de um ataque cardíaco, aos 56 anos.
Na entrevista, o ex-ministro também disse que o general Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo Bolsonaro, teria sido chamado para o esquema, mas se mostrou preocupado com a ideia.
Bebianno também disse ter aconselhado, junto ao general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro-chefe da Secretaria de Governo de Bolsonaro, que o presidente não aceitasse a sugestão de Carlos.
“O general Heleno foi chamado, ficou preocupado com aquilo, mas o general Heleno não é de confrontos, e o assunto acabou ali, com o general Santos Cruz e comigo”, afirmou Bebianno. “É muito pior que o gabinete do ódio, aquilo também seria motivo para impeachment”, acrescentou.
Procurado pela CNN, o advogado de Carlos Bolsonaro, Antonio Carlos Fonseca, afirmou que a defesa só irá se posicionar quando tiver acesso ao processo.
Bebianno também falou sobre “gabinete do ódio”
Pouco antes de citar o que chamou de “Abin paralela”, Bebianno também falou sobre o “gabinete do ódio”. Segundo o ex-ministro, ele e outros integrantes do governo alertaram o presidente sobre o risco de impeachment gerado pelo grupo.
“Nós começamos a alertar o presidente e dizer o seguinte: “olha, a fabricação dessas notícias falsas, isso não pode estar dentro do Palácio. Isso pode dar um impeachment. O senhor tem tanto medo de impeachment, vai deixar que isso se instale aqui?”, relatou Bebianno na entrevista.
Entenda a operação da Polícia Federal
As buscas desta segunda-feira são um desdobramento da Operação Vigilância Aproximada, que investiga o uso político da Abin.
Nesta nova etapa, que envolve o vereador Carlos Bolsonaro, a Polícia Federal busca avançar no núcleo político e identificar os principais destinatários e beneficiários das informações produzidas ilegalmente na Abin, por meio de ações clandestinas.
Segundo a PF, nessas ações eram utilizadas técnicas de investigação próprias das polícias judiciárias – sem, contudo, qualquer controle judicial ou do Ministério Público.
Os investigados podem responder, de acordo com suas responsabilidades, pelos crimes de invasão de dispositivo informático alheio, organização criminosa e interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática sem autorização judicial ou com objetivos não previstos em lei.
*Sob supervisão de Marcelo Freire