O feminicídio de Mônica Cavalcanti, em São José da Tapera, no Sertão de Alagoas, completa 60 dias nesta sexta-feira (18). A morte da jovem causou grande comoção em Alagoas e chocou a população, tanto pela crueldade do criminoso, ao atirar na vítima em via pública, quanto pelo relato dos abusos feito por Mônica momentos antes de morrer, através de um vídeo compartilhado na internet. O autor dos disparos, Leandro Pinheiro Barros, que era esposo dela, já foi indiciado pelo feminicídio, mas continua foragido.
De acordo com as investigações, no dia do crime, Leandro e Mônica estavam em uma festa, e o assassinato aconteceu após uma suposta discussão entre o autor e a vítima. Leandro teria retornado para a residência onde o casal vivia, buscado uma arma de fogo e depois assassinado Mônica em frente ao fórum da cidade.
Logo após executar a esposa a tiros, Leandro, que possui registro de colecionador e atirador desportivo (CAC), fugiu do local e, até então, não foi mais localizado pela polícia. Na residência do casal, foram encontrados uma pistola e uma camisa do homem. Essa camisa apresentava manchas de sangue. Os itens foram apreendidos e encaminhados ao Instituto de Criminalística.
Ao longo desses 60 dias, a Polícia Civil (PC) disse à imprensa que recebeu diversas denúncias sobre o paradeiro de Leandro, porém ele não foi encontrando em nenhum dos lugares relatados pelos denunciantes. De concreto, a PC confirmou que ele esteve no estado de Sergipe logo após o assassinato. Os estados da Bahia, Pernambuco, Sergipe e São Paulo estão sendo monitorados como possíveis locais onde ele estaria escondido.
Além de ter sido indiciado pela Polícia Civil, Leandro já foi denunciado pelo Ministério Público de Alagoas. O juiz Leandro Folly, titular da Comarca de São José da Tapera, também decretou a prisão preventiva dele.
Histórico de ciúmes e ameaças - Os primeiros depoimentos prestados por testemunhas durante as investigações do feminicídio contra Mônica Cavalcante, apontaram que Leandro, autor do crime, cometia violência doméstica contra ela. Segundo os relatos, eram frequentes as crises de ciúmes e ele também possuía um histórico de violência psicológica contra a companheira.
"Nós apuramos que uma discussão ocorrida entre o casal, em uma festa, desencadeou a ação criminosa. A morte de Mônica aconteceu após mais uma crise de ciúmes que o autor possuía pela vítima. Inclusive essa discussão teria envolvido o pai dela, que também estava presente nessa festa. Apuramos também que já havia um histórico de violência doméstica praticada pelo suspeito contra Mônica, principalmente de violência doméstica que ele praticava com ela. Portanto, já havia um histórico de relacionamento conturbado. Infelizmente ela não chegou relatar essa violência à polícia", disse o delegado Diego Nunes, que faz parte da comissão que investiga o feminicídio.
Vítima gravou vídeo antes de morrer - Em vídeo gravado minutos antes de morrer (assista abaixo), Mônica descreveu que estava em um relacionamento abusivo com o companheiro. "Eu estou bem, sabe? Eu tenho a consciência de que fui uma boa esposa, sabe? Fiz tudo ao meu alcance para ser feliz", disse a vítima aos prantos.
Vítima grava vídeo por temer a morte e registra o nome do susposto assassino
"Mônica dizia que estava tudo bem" - Em entrevista à TV Pajuçara, em julho deste ano, a família de Mônica Cavalcante relatou que as cicatrizes causadas pelo crime bárbaro não se curaram. Para o pai, ela sempre dizia que estava tudo bem no relacionamento, que estava feliz.
"Ela sempre dizia que estava tudo bem, que não estava ruim. Eu me despedi dela pouco antes de tudo acontecer. Era por volta de 2 horas da manhã, quando eu encontrei com eles. Não houve nenhum tipo de briga na festa onde estávamos. Eu os vi, conversei com ela. Ela foi embora e, logo depois, eu recebi essa notícia", disse Carlos Antônio Cavalcante, pai de Mônica.
No dia do crime, os filhos de Mônica tinham ficado com a irmã dela, para que o casal pudesse ir à festa. "Eu estava dormindo com as duas crianças, com os dois filhos dela. A Mônica havia me pedido pra ficar com os dois, pra poder ir nessa festa. Eles ficaram comigo, nós dormimos juntos e, por volta das 4h40 da manhã, eu recebo uma ligação. Era meu primo nessa ligação, que perguntava se seu estava aqui na cidade. Ele me disse que a Mônica havia morrido. Eu saí desesperada do quarto e a minha tia estava na cozinha. Ficamos desesperadas e a minha tia caiu ao chão. E eu logo imaginei que teria sido o marido dela. Agora eu só imploro por justiça. Eu não vou ter a minha irmã de volta. Ela era a minha melhor amiga, minha parceira. Eu só imploro por Justiça e peço força pra poder criar os frutos que ela deixou", disse a irmã.