RIO – A deputada federal Delegada Ione Barbosa (Avante-MG), que afirmou em pronunciamento na Câmara que os mortos pela Polícia Militar de São Paulo no Guarujá “mereceram morrer”, foi uma das parlamentares mais bem votadas em Minas Gerais na eleição passada. Apoiadora do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Ione ganhou projeção por atuar na defesa dos direitos das mulheres em setores da Polícia Civil mineira.
Em reunião da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado na terça-feira, 1º, a parlamentar defendeu a execução de pessoas como instrumento para se descobrir o responsável pelo assassinato de um policial.
“E, com certeza, essas dez mortes, desculpe aqui, são de pessoas que mereceram, porque a polícia, com certeza, não mata à toa. Mata por necessidade. Para salvar o cidadão de bem ou para salvar a própria vida. Se é necessário matar dez pessoas para chegar até uma pessoa que matou um policial, que seja”, disse. O número de mortes subiu para 16, segundo dados atualizados do governo de São Paulo desta quarta-feira, 2.
A deputada Ione Barbosa (Avante-MG) disse hoje na Câmara que os mortos pela PM de São Paulo no Guarujá "mereceram morrer" e que defendeu execuções para se chegar à autoria do assassinato de um policial.
— Vinícius Valfré (@viniciusvalfre) August 1, 2023
O governo de SP ainda não esclareceu as circunstâncias das mortes. pic.twitter.com/yERKCI28n9
Apesar de a deputada, oriunda de carreira policial, ter tratado como legítimo matar pessoas para se investigar a autoria de um assassinato de policial, a legislação brasileira não prevê essa prática. A deputada foi procurada pelo Estadão, mas ainda não se pronunciou.
Ione ganhou notoriedade ao atuar na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher e na 4ª Delegacia de Polícia Civil, em Juiz de Fora (MG), antes de ingressar na carreira política. O trabalho policial da delegada provocou o interesse de lideranças políticas. Ela se filiou ao Republicanos em 2020 para disputar a prefeitura da cidade mineira e ficou na terceira colocação.
Após a disputa municipal, Ione reassumiu, em janeiro de 2021, a Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher. O retorno ao meio policial, no entanto, perdurou até o início das articulações para a eleição seguinte. Pouco antes das eleições gerais do ano passado, Ione deixou o Republicanos e se filiou ao Avante para a disputar o cargo de deputada federal.
A delegada foi a deputada federal mais votada em Juiz de Fora. Na Zona da Mata mineira, obteve 44.084 votos. Ao todo, foi eleita por 52.630 pessoas. Ela apoiou a reeleição do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em 2022.
Além de formada em Direito, é mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), com pesquisa sobre violência contra mulheres.
Atuação na Câmara
Ione tomou posse no início deste ano. O primeiro projeto de lei apresentado pela deputada tem como objetivo fazer com que casas, bares e eventos privados ou públicos tenham a obrigação de denunciar abusos ou qualquer tipo de agressão direcionada às mulheres. O projeto, que está em tramitação, também estabelece uma série de medidas de atendimento imediato para vítimas de agressões.
Os projetos da deputada tratam de temas que atendem ao eleitorado conservador. São pautas com apelos à segurança pública. Um deles, o PL 538/23, aumenta a pena para a lesão corporal cometida contra mulheres na presença física ou virtual dos filhos. A proposta prevê que a pena seja duplicada.
Em outro projeto de lei, a deputada propõe que doações às instituições e organizações religiosas e aos templos de qualquer culto sejam incluídos nas deduções do Imposto de Renda de pessoas físicas.
PL das Fake News
Eleita com o apoio da base bolsonarista, a deputada tentou alterar o PL das Fake News, que está travado na Câmara. Ela propôs que os deputados tivessem o direito a ter duas contas nas redes sociais: uma pessoal e uma institucional. O perfil pessoal não estaria sujeito às sanções inerentes à prática parlamentar, caso a proposta de Ione fosse aceita.
“As publicações nas redes sociais dos agentes políticos de que trata este artigo que sejam de caráter pessoal e não se relacionem com o exercício do cargo não se sujeitam às obrigações previstas neste artigo”, diz a proposta de alteração do projeto.