"Eu estava na casa de um amigo no Vergel e conversando com a Aparecida no WhatsApp. Ela pediu para eu ir na porta dela para a gente conversar. A gente estava começando a se conhecer. O meu amigo me deixou lá e foi embora. Fiquei na porta da casa dela, na Ponta Grossa, e a gente ficou conversando, e ficamos, e quando deu por volta de meia-noite, já tinha dito a ela que ia para casa. Mas aí passou um carro, e fiquei cismado pela hora. Eu disse que ia embora, mas foi o tempo de ele arrodear a rua. Aí ele [Josevildo] voltou e já desceu do carro com arma na mão. Eu pensei que era assalto, aí fui entregar o celular a ele, mas ele não queria o celular, e apontou a arma para minha cara. Aí eu disse: olha o celular. Ai ele disse: não, eu quero que você vá para mala. Em nenhum momento ele olhou para o lado ou para trás, para saber se tinha alguém na rua", disse Agnísio, ao destacar ainda que conseguiu identificar o carro como um Voyage, mas sem definir a cor por estar escuro no momento da abordagem do ex-PM.
"Ele me colocou na mala, sempre afastado de mim, sem dar brecha para que eu reagisse. Eu pensei que era algo comigo, algum desentendimento, mas quando penso que não, eu escutei ele mandando a Cidinha entrar no carro. Aí eu estava com celular, porque ele não quis pegar, aí liguei para a polícia, mas ficou fazendo muita pergunta e vi que não ia dar resultado. Aí liguei para minha mãe, minha intenção era me despedir dela, porque já sabia que ia acontecer algo comigo. Ela fez um monte de pergunta, conversei com ela, com meu pai, e aí desligou porque não estava dando mais sinal lá, por trás da Braskem. Só que eu ainda não sabia que estava lá", continuou ao afirmar também que Josevildo não estava fardado no momento do crime.
Agnísio então contou mais detalhes do crime com requintes de crueldade, que aconteceu naquela madrugada. O jovem admitiu que, mesmo preso no porta-malas do veículo, conseguiu ouvir os gritos de Aparecida enquanto ela era estuprada dentro do automóvel. Ainda segundo o rapaz, Josevildo, depois da violência sexual, tentou obrigá-la a fazer sexo oral no namorado, momento em que Agnísio alegou ter recusado e acabou atingido pelos disparos do ex-soldado. O depoimento é muito forte.
"Da mala, eu escutei ele abusando dela, o carro balançando... Eu escutei o gemido dela, como se quisesse sair. Aí ele parou o carro, aí escutei ele indo pegar bala de revólver no carro. Aí ele abriu a mala, o bagageiro, e se afastou mais de mim, mas seguiu apontando a arma, e pediu para eu ir para a frente do carro, onde ela estava. Ele disse: se você correr ou tentar alguma coisa, vou matar você agora. Aí fui para frente, e me colocou de frente para ela. Ela estava nua, chorando. E ele mandou ela ficar de joelho e fazer sexo oral em mim, enquanto ele se masturbava na nossa frente. E eu disse que não queria. Aí ela chorando. Eu com a mão na cabeça. Aí levantei a minha roupa, ele deu o primeiro disparo na minha costela, ai rodei para o lado do carro, ele deu outro disparo nas minhas costas. Aí dei dois passos, ele atirou na minha perna, quando caí de bruços com a mão no rosto, ele deu outro na minha nuca. Foram quatro tiros. Nesse, caí de bruços com a mão no rosto e senti a bala saindo entre meu nariz e minha boca, e os estilhaços pegaram nos meus braços", contou ao reforçar o assassinato bárbaro cometido pelo acusado.
Além de Agnísio dos Santos, outras duas testemunhas do caso foram ouvidas nesta manhã, o pai de Agnísio e o irmão de Aparecida. O juiz Yulli Roter, responsável por conduzir o julgamento, dispensou outras duas pessoas antes arroladas para depor.
O réu vai prestar depoimento e a previsão é de que o resultado do júri, seja divulgado no começo da noite desta quinta.
Acusação e defesa - O promotor Frederico Monteiro espera que Josevildo seja condenado por homicídio qualificado por cinco questões, quanto à vítima Aparecida: motivo torpe, meio que dificultou a defesa, intenção de ocultar outro crime (o estupro), e contexto de feminicídio.
"Existem provas robustas, significativas, todas bem correlacionadas, muito bem casadas", afirmou Frederico.
O réu confessou o crime, e o advogado Luiz Estevão Perez explicou que a defesa sustenta que Josevildo não deve ser condenado, pois sofre de esquizofrenia e psicose, e seria portanto inimputável, além de ser usuário de drogas.
"Valentim é uma pessoa doente e não era pra estar na corporação. Ele já tinha atestado, e ainda que não tivesse, entrou na Polícia sem passar pelo crivo de psiquiatras. Ele entrou, popularmente dizendo, pela janela. A junta médica liberou ele e um mês depois ele foi cometer uma insanidade. Ele é insano", disse Estevão.