Acuado pela CPI da Pandemia e as pesquisas de opinião que o colocam na rabeira da disputa presidencial de 2022, Jair Bolsonaro deu mais um sinal, no início desta semana, de que está disposto a dobrar a aposta na radicalização.
Investigado como vetor da explosão de contaminação em seu país, o capitão aparentemente decidiu ajudar os trabalhos da comissão ao produzir mais provas contra ele mesmo.
Nesta segunda-feira 17, ele atacou novamente o isolamento social criando uma falsa dicotomia entre trabalhador urbano e rural e chamando de “idiotas” quem decidiu ficar em casa para se proteger.
“Tem uns idiotas aí, o 'fique em casa'. Tem alguns idiotas que até hoje ficam em casa. Se o campo tivesse ficado em casa, esse cara tinha morrido de fome, esse idiota tinha morrido de fome. Daí, ficam reclamando de tudo", disse.
A estratégia é tão clara quanto tosca. Visa eletrizar sua base de apoio que tem encolhido a cada dia.
O efeito é questionável. Na pesquisa Datafolha divulgada na semana passada, 58% dos entrevistados diziam que o presidente não tem capacidade de liderar o país — contra 38% que dizem o contrário.
Apenas dois em cada 10 brasileiros afirmam apoiar seu desempenho na pandemia. A maioria (51%) o desaprova.
Bolsonaro sobe o tom dos ataques no momento em que metade dos brasileiros (50%) diz nunca confiar nas declarações do capitão, contra 34% que garantem confiar só às vezes.
O índice dos que o levam a sério o tempo todo é de 14%.
Uma posição vergonhosa para qualquer líder de qualquer time merreca de futebol. Quanto mais em um país como o Brasil.
Diante dos dados, é possível concluir que é este o número de pessoas que concordam com o presidente quando ele chama alguém de idiota por ficar em casa enquanto a vacina não vem. A minoria da minoria.
Não é por outra razão que já tem mais gente defendendo o impeachment do presidente (49%) do que pedem a sua permanência (46%).
Bolsonaro tem mais razões para tentar pautar o debate em torno de mais um ataque contra parte dos brasileiros que deu a ele um voto de confiança em 2018 —para quantos “idiotas” que hoje estão em casa ele pediu uma chance na última eleição? Para quantos vai ter coragem de pedir um novo voto e fingir que agora, dessa vez, aprendeu com os erros e não representa mais risco para ninguém?
Quanto mais se fala do que o presidente diz, menos se presta atenção no que ele faz. E o que ele faz, e tem feito, conforme revelado, é um grande acordo com o outrora demonizado centrão para conseguir apoio em troca de um orçamento paralelo que só atende aos mais chegados.
A assimilação do toma-lá-dá-cá deitou ao chão a última máscara que ainda vestia o mito eleito prometendo um governo técnico, liberal, sem amarras ideológicas ou ataques à Constituição.
Para azar dele, conforme mostram as pesquisas, é cada vez menor o número de pessoas que levam a sério o que ele diz.
O encolhimento do seu apoio é um ajuste técnico ao tamanho de seu personagem real.
Eleito com 57 milhões de votos, Bolsonaro periga terminar o mandato com menos moral do que o lunático da esquina que sobe no caixote para avisar os passantes de que o fim está próximo. E que só a fé na cloroquina pode salvar.