Senador pela Bahia e membro titular da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, Otto Alencar (PSD) defendeu, em entrevista exclusiva à CNN neste sábado (8), que a investigação em curso no Senado evidencie erros cometidos pelo governo federal no combate à Covid-19 e gere mudanças que salvem vidas. Para tanto, disse o senador, é necessário que o próprio presidente Jair Bolsonaro (sem partido) mude de postura.
"Não existe medicamento que possa prevenir uma virose a não ser a vacinação, não há outro caminho para isso. É preciso que o presidente deixe sua vaidade de lado, reconheça que errou. E eu estou falando até como médico, como alguém que está percebendo o que está se passando no meu país", argumentou Otto Alencar, crítico do chamado "tratamento precoce", que usa drogas sem comprovação de eficácia contra a Covid-19.
Da mesma forma, defendeu o senador, é importante que o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello compareça à CPI e reconheça eventuais erros. "Dizia Voltaire que homens erram e que os grandes homens assumem os seus erros e corrigem os seus erros", disse Alencar, citando o filósofo francês.
O depoimento de Pazuello à CPI da Pandemia estava marcado para esta semana, mas foi adiado depois que o ex-ministro afirmou ter tido contato com duas pessoas que testaram positivo para a Covid-19. Assim, a oitiva do general da ativa foi remarcada para o dia 19 de maio. No entanto, há possibilidade de Pazuello apelar ao Supremo Tribunal Federal (STF) para não comparecer ao depoimento.
Se isso acontecer, disse Otto Alencar, "o STF estará muito errado, redondamente errado".
Questionado sobre a possibilidade de o ministro da Economia, Paulo Guedes, e do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) serem convocados a depor na CPI, o senador disse que essas eventuais convocações poderiam ser vistas como ataques pessoais ao presidente Jair Bolsonaro e "não são necessárias".
Otto Alencar disse que vai querer saber do diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, o detalhamento do processo que levou à negativa por parte da agência sanitária da importação da vacina contra a Covid-19 Sputnik V, já encomendada pelo Ministério da Saúde e pelo consórcio de governadores do Nordeste.
A oitiva de Barra Torres está agendada para terça-feira (11).
"Como foi uma coisa que surgiu no Nordeste, tenho uma suspeita, não tenho uma comprovação, de que tem um componente político aí nessa situação de não dar a condição de liberação da Sputnik, que está em 66 países, inclusive aqui na vizinha Argentina. Essa é uma questão que vamos ter que apurar na oitiva do almirante Barra Torres", afirmou Otto Alencar.
O senador pela Bahia também disse que outro depoente da CPI, o ex-secretário-executivo do Ministério das Comunicações Fabio Wajngarten, deverá ser inquirido sobre o que o parlamentar classifica como "lobby" pela compra de vacinas produzidas pela farmacêutica americana Pfizer, que já fechou contrato de 100 milhões de doses com o governo brasileiro e agora negocia outro lote com a mesma quantidade de vacinas.
"Não me parece condizente, na estrutura organizacional do estado brasileiro, que o secretário de Comunicação se envolva na compra de vacina", pontuou Alencar. Wajngarten deverá ser ouvido pelos parlamentares na quarta-feira (12).