A investigação para descobrir o que motivou a maior chacina da história do Distrito Federal terminou nesta sexta-feira. Em uma coletiva de imprensa, a Polícia Civil do Distrito Federal afirmou ter concluído que as mortes de 10 pessoas da mesma família foram causadas pelas ambições de um grupo de cinco homens de lucrar com a venda de uma propriedade de R$ 2 milhões, na Região Administrativa do Itapuã. O terreno, onde há uma chácara, pertencia a Marcos Antônio Lopes de Oliveira, de 54 anos, patriarca da família.
Ao longo de cerca de três semanas, filhos, netos e parentes de Marcos Antônio foram sendo assassinados pelos envolvidos, como parte de um plano iniciado no dia 28 de dezembro de 2022. Nas duas últimas semanas, os corpos das vítimas começaram a ser descobertos pelos policiais em carros abandonados em rodovias entre Goiás e Minas Gerais e no endereço usado como cativeiro.
Por crimes como homicídio qualificado, ocultação e destruição de cadáver, extorsão seguida de morte, entre outros, pelos quais os suspeitos serão indiciados, as penas podem ir de 190 a 340 anos de prisão para cada um, segundo os policiais.
Gideon Batista de Menezes, 55 anos; Horácio Carlos, de 49; Fabrício Silva Canhedo, 34; Carlemom dos Santos, de 26, e Carlos Henrique Alves da Silva, de 25, planejaram durante três meses a morte de toda a família para tomar posse do imóvel, localizado em uma área de proteção ambiental, onde há uma cachoeira. No dia 23 de outubro, os bandidos alugaram o cativeiro onde iriam manter as vítimas.
— Gideon e Horácio moravam com Marcos na chácara, que em especulação informal valeria R$ 2 milhões. Eles almejavam tê-la para eles, para posterior comercialização. O plano era o seguinte: ceifando a vida de toda a família, teriam a posse do bem, fariam a venda e aufeririam o dinheiro — disse o delegado Rodrigo Viana, em coletiva.
Gideon Menezes, Horácio Carlos, Carlemom eram os principais articuladores da chacina. Canhedo, por sua vez, foi o responsável por cuidar das vítimas no cativeiro. Já Carlos Henrique da Silva participou apenas do assassinato de uma delas.
Segundo a polícia, um adolescente, que não foi identificado, foi chamado para participar do crime, mas desistiu quando as mortes começaram.
Em 28 de dezembro, o plano começou a ser executado na própria chácara, quando Marcos, sua esposa Renata Juliete Belchior, de 52 anos, e a filha deles, Gabriela Belchior de Oliveira, de 25, foram rendidos na própria chácara em que moravam.
Na ocasião, Gideon deu acesso ao local a Carloman e ao adolescente, com a intenção de simular um roubo à chácara. Horácio estava no local e fingiu-se de vítima. No entanto, Marcus reagiu, sendo atingido com um tiro na nuca por Carloman. Ele morreu no local. Assustado, o adolescente pulou o muro durante a madrugada e fugiu do local.
Depois disso, o grupo criminoso levou Renata, Gabriela e Marcos para o cativeiro. O corpo de Marcos foi enterrado na própria chácara no dia seguinte por Gideon e Horácio, na mesma noite.
A ex-mulher de Marcos, Cláudia Regina Marques de Oliveira e a filha dela, Ana Beatriz Marques de Oliveira, também se tornaram alvo do grupo. Ela havia vendido uma casa no valor de R$ 200 mil que também virou objeto de cobiça. Os criminosos simularam, com o celular de Marcos, que Gideon, Horácio e Fabrício a ajudariam na mudança para a nova casa.
No novo endereço, o trio permitiu a entrada de Carloman, que adotou novamente a estratégia de simular um assalto. Mãe e filha acabaram, assim, rendidas e levadas para o cativeiro.
No dia 12, Thiago Gabriel Belchior, marido da cabeleireira Elizamar da Silva, recebeu uma mensagem o atraindo com a mulher e os três filhos do casal até a chácara. Mais uma vez, Carloman simulou um assalto, rendendo a família.
Enquanto Thiago foi levado com vida para o cativeiro, Elizamar e os três filhos foram colocados em um carro, que foi queimado após as vítimas serem asfixiadas.
No dia 14 de janeiro, Renata e Gabriela foram mortas em Unaí, Minas Gerais, e tiveram o carro queimado por Horácio e Gideon. No dia seguinte, Thiago, Cláudia e Ana saíram do cativeiro com vida, mas acabaram sendo esfaqueados pelos criminosos e tiveram os corpos enterrados em uma cisterna em Planaltina, Região Administrativa do Distrito Federal.
De 14 a 16 de janeiro, a polícia recebeu denúncias de desaparecimento de dez pessoas, todas da mesma família. Os denunciantes eram dois filhos de Elizamar, que foi assassinada: um rapaz de 24 anos e uma jovem de 18 anos, preocupados com o sumiço da mãe e dos demais parentes.
Investigadores descobriram que dois carros com corpos carbonizados haviam sido encontrados em Cristalina (GO) e Unaí (MG) entre os dias 13 e 14, e o veículo achado em Goiás pertencia a Elizamar. Com o avançar dos dias, os cadáveres localizados começaram a serem identificados como de membros da família desaparecida.
Uma versão inicial apresentada por um dos presos na investigação era a de que o crime havia sido encomendado por Thiago Belchior e o pai, Marcos Antônio. A motivação, no caso, seria o dinheiro da venda de um imóvel. As descobertas dos corpos de pai e filho, no entanto, fizeram com que essa versão fosse descartada.
Evidências começaram a aparecer sugerindo o real motivo por trás do crime, como um caderno encontrado no cativeiro no qual constam os dados bancários das vítimas. De acordo com o delegado Rodrigo Viana, que investigou o caso, a morte dos familiares não estava no plano inicial dos criminosos:
– A morte do Marcos teria sido de forma precipitada. Houve uma reação por parte dele, e o suspeito atirou. Ali foi o primeiro percalço. A gente não sabe qual seria o fim, mas a intenção era levá-lo ao cativeiro. Aliás, se a opção deles fosse colocar todo mundo na fossa, nós teríamos muito mais trabalho até chegar lá, porque todos iriam ter sumido – explicou Viana.