14/12/2022 às 20h44min - Atualizada em 14/12/2022 às 20h44min
Onde você esconde seus preconceitos?
“a palavra é uma faca amolada”.
Por: Marcelo Nascimento
Agência de Notícias
Josy Kely - Imagem cedida “Um homem foi encontrado morto dentro de uma casa em Arapiraca”, foi assim que, em horário nobre, o jornalista âncora do principal telejornal de Alagoas, anunciou o assassinato de Josy Kely, mulher trans, fundadora do Somos, o primeiro grupo LGBTQIA+ de Arapiraca, Al.
Embora a matéria faça referência ao fato da vítima ser defensora dos direitos da comunidade LGBTQIAP+, utiliza-se novamente o emprego do gênero masculino, promovendo o apagamento social da identidade gênero de Josy Kely, que afirma-se como uma mulher transexual, pela qual ela havia lutado por décadas.
Conheci a ativista Josy Kely no final da década 2000 quando da criação do grupo Sohmos LGBT de Arapiraca. Josy Kely só queria ser feliz, amar e ser amada, sonhava com um mundo mais inclusivo, acolhedor e respeitoso para as pessoas que amam diferente dos padrões culturais cisheteronormativos.
Importante registrar, antes de tudo, que há total concordância de que a imprensa tem o importante papel social de noticiar e dar publicidade aos crimes cometidos contra os direitos humanos fundamentais das pessoas LGBTQIA+, visando despertar às autoridades constituídas para providências legais e elucidação desses delitos.
Como diz o cantor e compositor Milton Nascimento, “a palavra é uma faca amolada”. Para o comunicador social a palavra tem poder de legítimar situações, preconceitos e estigmas, mas também poderá conduzir os/as/es leitores/as e ouvintes a uma cultura de reconhecimento e respeito à diversidade sexual e de gênero.
Josy foi mais uma vítima das milhares de facas que são amoladas diariamente em alguns templos religiosos, na imprensa machista e lgbtfobica, nas escolas tradicionais e no seio das famílias conservadoras.
Josy continuará presente nos corações e nas mentes das pessoas que constroem diariamente com suas práticas libertadoras um mundo melhor e mais inclusivo.
A atual conjuntura tem apresentado desafios gigantescos para garantir a democracia plena, um desses desafios consiste na construção de uma imprensa livre, democrática e libertadora, cumprindo seu papel estratégico na promoção de uma cultura de paz e respeito aos direitos Humanos das pessoas trans e suas identidades.
Josy Kely, Presente!
*Fundador do Movimento LGBTQIAP+ em Alagoas, bacharel em Direito e ex-presidente da ABGLT.
Por: Marcelo Nascimento