A impressão: se não mudar de ideia, 80% do seu futuro ministério já está escalado na sua cabeça. Dos 80%, poucos foram informados que serão ministros. Só não serão os que recusarem o convite.
Quando, em 2002, elegeu-se presidente pela primeira vez, ele não apelou ao passado para justificar sua eleição. Afinal, disputou o cargo três vezes e perdeu as três, duas ainda no primeiro turno.
Mesmo assim, avisou aos que ambicionavam cargos: “Somente eu e José de Alencar [o vice-presidente] fomos votados. Não se esqueçam disso”. Não faltou cargo para quem quis.
Agora, vai faltar. O PT sabe, embora esteja inconformado. A Jorge Viana (PT), duas vezes governador do Acre, derrotado nas eleições passadas, Lula disse outro dia em São Paulo:
“Ô, Jorge, por 20 anos, você e seu grupo mandaram no Acre e eu nunca venci por lá.” Bolsonaro obteve, no segundo turno, 70,30% dos votos válidos, contra 29,70% de Bolsonaro.
Lula atravessou a campanha no primeiro e no segundo turno dizendo que não bastaria ganhar, que seria preciso ganhar e poder governar. Daí a frente ampla de partidos que montou.
A frente segue sendo ampliada e, quanto mais for, menos haverá cargos para o PT e os demais partidos da esquerda raiz. Chorem ou estrebuchem na maca os que quiserem fazê-lo, mas assim será.
Dir-se-á, e já muito se diz: “Lula ficará refém do Centrão, assim como Bolsonaro ficou”. A ver, a ver. Bolsonaro ficou refém do orçamento secreto, exigência do Centrão para apoiá-lo.
E se o orçamento secreto acabar? O Supremo Tribunal Federal está às vésperas de julgar ações que questionam a legalidade do orçamento secreto. E, pelo jeito, concluirá por sua ilegalidade.
Os ventos sopram a favor de Lula. A crise militar está perto do fim. Na semana que vem, ele será diplomado pela Justiça. E terá até o dia 31 para anunciar a face completa do seu governo.
Enquanto isso, a erisipela não deixa Bolsonaro dormir em paz.