O ministro Paulo Guedes (Economia) tem afirmado a interlocutores que a intensidade da pandemia de Covid-19 deve diminuir em um horizonte de três meses no Brasil.
Para o ministro, a vacinação concentrada nos grupos mais vulneráveis à doença vai ser responsável por fazer decrescer o número de mortes e, em consequência, a força da crise sanitária nos próximos meses.
O tempo estimado para a perda de força da pandemia fica dentro da duração dos programas anticrise relançados neste mês.
Tanto o auxílio emergencial quanto o programa de manutenção de empregos preveem quatro meses de duração.
O ministro vê sinais de resiliência da atividade doméstica atualmente, com crescimento de empregos formais mesmo em meio ao que considera ser o auge da crise sanitária no país.
Além disso, especialistas alertam para os riscos de continuidade da pandemia, inclusive no próximo ano. "Não há dúvida de que a epidemia não terá se extinguido em 2022", disse Margareth Dalcolmo, pneumologista e pesquisadora da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), em entrevista à Folha na semana passada.
O alerta é feito também pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Michael Ryan, diretor-executivo da entidade, afirmou em março que é "prematuro e irrealista" falar em fim da pandemia em 2021.
Tal incerteza foi mencionada pelo governo no projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2022. Enviado há cerca de 15 dias ao Congresso, o texto não apresentou cálculos de impacto da Covid nas contas e mencionou dificuldades para traçar o cenário.
"Permanece elevado o nível de incerteza para prever a intensidade, a extensão e a duração da pandemia e, consequentemente, a magnitude de seus reflexos sobre o nível de atividade econômica global e doméstica."
Paulo Solmucci, presidente-executivo da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), afirmou que o período de quatro meses de duração da medida deve dar conta para enfrentar a crise.
"Os 120 dias serão provavelmente suficientes", disse ele –que critica, por outro lado, o atraso no programa.
"Se tivesse vindo dentro do prazo de 15 dias prometido, teria sido bem mais útil e salvo muitas empresas e empregos, porque teria coberto o período de portas completamente fechadas", disse.
Apesar de o discurso pregar rápida recuperação, Guedes e equipe criaram dispositivos para renovar as medidas anticrise de forma facilitada neste ano, caso seja necessário.
O programa de emprego e o auxílio emergencial preveem em suas regras a possibilidade de prorrogação por decreto do Executivo.
Bruno Dalcolmo, secretário de Trabalho, já afirmou que pode haver prorrogação do programa de emprego. Ele lembrou que, para isso, a MP (medida provisória) do programa de emprego precisa ser aprovada pelo Congresso. O texto traz a possibilidade de renovação via decreto do Executivo.
"A expectativa é que o programa seja aprovado e que tenhamos autorização para a prorrogação do programa. Agora, isso só pode acontecer havendo disponibilidade orçamentária", disse.