O presidente Jair Bolsonaro (PL) abriu nesta terça-feira (20) a 77ª Assembleia-Geral da ONU (Organização das Nações Unidas). Tradicionalmente, o Brasil é o primeiro país a discursas no encontro. Durante sua fala, em tom de campanha eleitoral, o presidente exaltou os feitos de seu governo.
O mandatário tratou sobre assuntos como gestão da pandemia de covid-19 no Brasil, endividamento da Petrobras durante os governos do PT, citou dados sobre desmatamento e mencionou números da violência contra a mulher. Contudo, ele repetiu informações erradas e utilizou dados distorcidos.
Confira a checagem do Yahoo! Notícias sobre o discurso do presidente Jair Bolsonaro na 77ª Assembleia-Geral da ONU.
"Quando o Brasil se manifesta sobre a agenda da saúde pública, fazemos isso com a autoridade de um governo que durante a pandemia da covid-19 não poupou esforços para salvar vidas."
Presidente Jair Bolsonaro (PL), em discurso de abertura na 77ª Assembleia-Geral da ONU, em 20 de setembro de 2022.
Apesar de o presidente afirmar que seu governo não poupou esforços para salvar vidas, estudos indicam que com uma gestão mais eficiente, vidas poderiam ter sido poupadas.
Em 2021, o MPC (Ministério Público de Contas) afirmou ao TCU (Tribunal de Contas da União) (TCU) que o governo se omitiu ao deixar de comprar os imunizantes da Pfizer em 2020.
Um estudo realizado pelo epidemiologista e pesquisador da UFPel (Universidade Federal de Pelotas) Pedro Hallal demonstrou que quatro em cada cinco mortes pela covid-19 poderiam ter sido evitadas caso o governo federal tivesse adquirido antes as vacinas. Segundo as estimativas, ao menos 400 mil pessoas não teriam morrido em razão do vírus.
Um estudo realizado por pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) e da FGV (Fundação Getulio Vargas) também apontou que, ao menos, 130 mil vidas teriam sido salvas em 2021 se a vacinação em massa tivesse começado mais cedo:
"Somente entre o período de 2003 e 2015, onde a esquerda presidiu o Brasil, o endividamento da Petrobras por má gestão, loteamento político e em desvios chegou à casa dos US$ 170 bilhões."
Presidente Jair Bolsonaro (PL), em discurso de abertura na 77ª Assembleia-Geral da ONU, em 20 de setembro de 2022.
O número apresentado por Bolsonaro é exagerado. Nenhum dos valores registrados em documentos oficiais se aproxima de US$ 170 bilhões, o que equivale a cerca de R$ 879 bilhões.
Em dezembro de 2003, primeiro ano da gestão petista, a dívida bruta da Petrobras foi de US$ 12,3 bilhões na cotação de 20 de setembro de 2022 (R$ 63,8 bilhões). Já ao final de 2015, a dívida da estatal atingiu US$ 95,3 bilhões (R$ 492,8 bilhões).
No período, o valor da dívida totalizou – em valores corrigidos pelo IPCA – US$ 101,3 bilhões (R$ 523,6 bilhões). Isso seria cerca de US$ 68,7 bilhões a menos do que o valor mencionado por Jair Bolsonaro.
"Dois terços do território brasileiro se encontram com vegetação nativa, que se encontra exatamente como estava quando o Brasil foi descoberto em 1500."
Presidente Jair Bolsonaro (PL), em discurso de abertura na 77ª Assembleia-Geral da ONU, em 20 de setembro de 2022.
Embora, de fato, o Brasil até 2021 tivesse 66% de seu território coberto por vegetação nativa, é falso que essas áreas estejam preservadas da mesma maneira que em 1500, de acordo com dados da rede MapBiomas.
Um estudo da rede identificou que, até 2019, 9,3% da vegetação natural do Brasil já tinha sido desmatada e convertida para uso do ser humano ao menos uma vez. Essa é a chamada vegetação secundária.
Além disso, parte dessas áreas jamais foi desmatada, porém, já foi degradada pelo fogo ou extração predatória de madeira.
"Combatemos a violência contra as mulheres com todo rigor [...]. Os resultados aparecem em nosso governo: Queda de 7,7% no número de feminicídios".
Presidente Jair Bolsonaro (PL), em discurso de abertura na 77ª Assembleia-Geral da ONU, em 20 de setembro de 2022.
Comparando os números de 2018 – ano imediatamente anterior ao governo de Bolsonaro – com os de 2021, observou-se um crescimento de 9,1% nos casos de feminicídios, ao contrário do que afirmou o presidente.
Em 2018, ocorreram 1.129 casos, enquanto em 2021 foram 1.341, segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
Apenas houve uma queda quando comparada a quantidade de feminicídios de 2021 com a de 2020. Contudo, a taxa não se aproximou da mencionada pelo mandatário. Em 2020, ocorreram 1.354 feminicídio e em 2021, 1.341, o que representou uma diminuição de 1,8%.