Um golpista, por sua própria natureza, nunca deixa de ser golpista. Nunca ouvi um golpista arrependido pedir desculpas pelo que fez. O golpista pode até explicar por que um golpe que liderou não deu certo, mas não admite que a culpa possa ter sido dele.
Bolsonaro quer se reeleger. Uma vez que consiga, seguirá em frente com o processo de enfraquecer a democracia e de concentrar poderes em suas mãos. Um dos seus primeiros alvos será o Supremo Tribunal Federal. Ele conta ali com dois dos 11 ministros.
Com um novo mandato, terá direito a indicar mais dois, mas ainda assim é pouco para o que pretende. Então, com um Congresso comprado via Orçamento Secreto, tenta aprovar um projeto para aumentar o número de ministros do Supremo.
Mas, se possível, não só. Para reduzir o mandato dos ministros. Hoje, eles só se aposentam obrigatoriamente ao completar 75 anos de idade. A aposentadoria obrigatória poderia ser aos 70 anos. Controlar a Justiça é uma das etapas do golpe, porém não basta.
Há que se dar um jeito de tornar a imprensa submissa ao governo. Com uma imprensa totalmente livre ou que se comporte como tal, será impossível a construção de um regime autoritário. Não será preciso pôr censores nas redações. Haverá outros meios e modos.
Sem o apoio das Forças Armadas, o golpe de Bolsonaro não se realizará. Mas se hoje as Forças Armadas o apoiam porque não querem a volta da esquerda, se elas há 4 anos o apoiaram pela mesma razão, por que não o apoiaram? Tudo dentro das leis.
Quanto às leis… Um Congresso dócil reformará as que tiverem de ser reformadas. E uma justiça amedrontada ou dominada as engolirá contrafeita. Você duvida? Vote em Bolsonaro e espere para ver. Se é isso o que quer, parabéns. Se não for, aguente.
Eu tinha 16 anos quando o golpe militar de 64 cancelou a democracia a pretexto de defendê-la. Não tinha as informações que um menino de 16 anos tem hoje. Mas já não gostei porque não pude ver minha namorada que morava em frente a um quartel.
Com 18 anos, como repórter, pediram minha cabeça porque escrevi uma reportagem que irritou os militares. Só piorou depois disso e até que a ditadura acabasse 21 anos depois. A inflação que prometeram conter aumentou. Muitos foram torturados e mortos.
Mas era preciso afastar o fantasma do comunismo, diziam, e todos os sacrifícios para isso deveriam ser feitos. Fala-se de novo que o comunismo está de volta, eu procuro e não vejo. Vejo um Brasil capaz de alimentar 32 países e de abrigar 33 milhões de famintos.