Candidata a deputada federal, Marina Silva (Rede) disse nesta terça-feira (13) que a campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) manipula a religião e a própria primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
Em entrevista ao portal UOL, a ex-ministra do Meio Ambiente, que declarou apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na segunda (12), afirmou que não julga a fé de ninguém, mas que fundamentalismos não são bons.
“Me preocupo com a manipulação da fé e da política. Fundamentalismos não são bons, nem político, nem evangélico. Agora, quando as duas coisas se encontram, aí temos uma questão letal”, avaliou.
Marina falou sobre as notícias falsas divulgadas por bolsonaristas de que Lula vai fechar igrejas se for eleito. Ela lembrou que o petista foi presidente por dois mandatos e não existe uma igreja que tenha sido fechada por ele.
O resto é história: Lula ungiu Dilma Rousseff, antípoda de Marina no Executivo, e engatou a terceira marcha na estrada neodesenvolvimentista, que teve no PAC e na construção da usina de Belo Monte, no Pará, a sua marca principal.
Marina disputou a Presidência em 2010 pelo PV e levou anos para conseguir estruturar seu próprio partido, a Rede Sustentabilidade. No caminho, disputou a Presidência pelo PSB, em 2014, após a morte de Eduardo Campos, de quem seria vice até sua morte em um acidente aéreo.
Foi a eleição em que chegou mais perto de conseguir desbancar a candidata de seu antigo partido.
Na época parte do empresariado já incorporava em suas planilhas a linguagem da agenda ambiental. Não por boa vontade, mas porque perceberam que estava ali a salvação dos negócios. Não há ambiente para lucros em um país em desequilíbrio ambiental. Era uma questão de sobrevivência.
Nascida em um seringal do Acre, Marina sobreviveu à pobreza, à malária e aprendeu a ler aos 17 anos. Quando deixou o PT, após 30 anos, e se tornou candidata à Presidência, reuniu apoio de nomes de peso do PIB como Maria Alice Setúbal, herdeira do Itaú, e Guilherme Leal, da Natura.
O afastamento entre Marina e o PT atingiu o ápice em 2014, quando declarou apoio a Aécio Neves (PSDB) no segundo turno. Sua candidatura desidratou conforme avançavam os ataques do PT.
Marina passou anos atribuindo a João Santana, então marqueteiro de Dilma, hoje de Ciro Gomes (PDT), a pecha de pai das fake news. Foi ele quem idealizou uma propaganda na qual Marina era atacada por defender a autonomia do Banco Central. Na peça, pratos de comida desapareciam da mesa de uma família brasileira.
Em 2018, a ex-senadora não conseguiu repetir o feito das campanhas anteriores. Por ironia, justo quando conseguiu concorrer por seu próprio partido, alcançou apenas 1% dos votos –contra 21% de 2014, o equivalente a 22 milhões de eleitores.
Até pouco tempo, a ex-petista era uma das entusiastas de uma terceira via capaz de furar a polarização entre Lula e Jair Bolsonaro (PL).
Lula era quase sempre poupado das críticas mais incisivas que ela direcionava ao PT, mas nem um nem outro jamais disfarçaram a mágoa por terem tomado caminhos diferentes, embora não exatamente opostos, nos últimos 15 anos.
Como se sabe, a terceira via jamais decolou e desde então ela tem avisado que só declararia voto no petista caso houvesse um alinhamento programático entre eles. Esse alinhamento só foi decidido quando Lula entrou em campo em busca do chamado voto útil para tentar vencer a eleição já no primeiro turno.
Marina e Lula assinam o armistício no momento em que a fragmentação do campo progressista, o que uniu e desuniu ambientalistas e neodesenvolvimentistas, possibilitou a ascensão de extremistas como Bolsonaro. Como diria o poeta, o inimigo agora é outro. Faz tempo que é.
A aliança tem mais peso simbólico do que eleitoral.
Marina já não tem um espólio de 22 milhões de eleitores igualmente desiludidos com o PT para chamar de seu. E Lula, apesar do recrutamento do ex-tucano Geraldo Alckmin, hoje no PSB, para a vice, não transita como já transitou um dia entre personalidades que já apontavam problemas em suas escolhas, sobretudo no campo da economia, já no fim dos anos 2010. Esse apoio virou antipatia em muitos meios durante os anos Dilma Rousseff.
Mágoas aplacadas, Lula dobra, com Marina, a aposta na formação de uma frente realmente ampla para vencer seu principal adversário –uma frente que tem de Alckmin ao PSOL, partido criado também por ex-petistas descontentes com os rumos dos primeiros anos de governo.
Como notou um atento observador da cena política, é preciso um nível de desprendimento considerável, por parte de Marina, para se sentar na mesa mesa do ex-governador responsável por lançar Ricardo Salles, ícone do desmatamento bolsonarista, para a vida pública. Salles foi secretário de Meio Ambiente de São Paulo no governo Alckmin.
Com um pouco de boa vontade é possível visualizar um aceno, por parte de Lula, para que a ex-aliada volte a ter protagonismo em um eventual novo governo petista. Um protagonismo que deixou escapar em meados de 2008, quando o PT assumiu o lado pragmático e não se preocupou em fechar os trincos de um dique que ameaçava romper.