Cabe a um candidato ir atrás de votos no reduto eleitoral de outro? Ou só cabe ir atrás de votos em terras de ninguém? Desde que existem eleições da forma como conhecemos, ganha-se ou perde-se indo à caça de votos onde eles pareçam ser possíveis.
Curral eleitoral é coisa de antigamente quando os meios de comunicação não chegavam a todos os lugares e as pessoas votavam como o dono do curral mandava. Havia os chamados coronéis, e ninguém ousava invadir seus domínios.
Tasso Jereissati (PSDB), Ciro Gomes (PDT) e Sérgio Machado fazem parte de uma geração que aposentou os coronéis cearenses do passado. Foram chamados de novos coronéis. Os dois primeiros continuam na política, o outro saiu e acabou preso por corrupção.
Jereissati está prestes a sair de cena devido à idade e à saúde; Ciro, a perder para ele mesmo sua quarta eleição presidencial. E, desde já, ele procura um culpado por isso. A culpa é de Lula que, como sempre, se mete no seu caminho. Voltou a atacá-lo, ontem:
“O que ele [Lula] está fazendo no Ceará, no Rio de Janeiro, no Maranhão, o que está fazendo com a Simone Tebet, de tirar o direito de a pessoa ser candidata, faz dele um fascista quase tão grave quanto o Bolsonaro. E pronto, é isso que eu penso”.
Jereissati juntou-se a Ciro na tentativa de eleger o próximo governador do Ceará, uma vez que Ciro empacou nos 8% dos votos para presidente. O PT de Lula lançou candidato próprio ao governo do Ceará com chances de vencer. Daí o choro de Ciro:
“Os números existem para a gente se proteger. Veja quantos votos eu tirei e quantos votos o Haddad (PT) teve no segundo turno [em 2018]. Eu tinha força de dar ao Haddad [no Ceará] mais votos do que tive? Só um canalha como o Lula faz isso”.
É o raciocínio do velho coronel da política. Não ocorre a Ciro que os eleitores é que decidem a eleição, e que os políticos se aproximam ou se distanciam dos candidatos a presidente levando isso em conta. No Ceará, Ciro está atrás de Lula e Bolsonaro.