Os dois lados podem ter razão em parte. O preço dos combustíveis já baixou há semanas, nem assim Bolsonaro cresceu fora da margem de erro. Mas é razoável prever que crescerá tão logo o dinheiro do auxílio caia no bolso dos eleitores mais pobres.
É a economia, sempre ela, que decide a sorte das eleições. Se a vida melhorar, o governante ganha, se piorar, perde. A vida piorou porque Bolsonaro não soube enfrentar a pandemia da Covid, mas o pacote eleitoreiro causará uma sensação de alívio até dezembro.
Se tal sensação será suficiente para que ele dispute o segundo turno, essa é outra história que se conhecerá no fim de agosto, início de setembro. Porque é disso que se trata – se haverá ou não segundo turno, se a eleição não será liquidada logo no primeiro.
Está para nascer a campanha sem erros, irretocável. Em 2006, por exemplo, candidato à reeleição, Lula faltou a todos os debates no primeiro turno. Temeu virar saco de pancadas dos adversários. O mensalão do PT ainda estava fresco na memória dos eleitores.
Hoje, ele admite que errou. Seu maior adversário à época, Geraldo Alckmin, quase empatou com ele no primeiro turno. No segundo, de tanto cometer erros primários, Alckmin conseguiu a proeza de ser menos votado do que havia sido três semanas antes.
Lula tem errado pouco na campanha que oficialmente sequer teve início, embora venha sendo travada por Bolsonaro desde que ele pôs os pés no Palácio do Planalto. Bolsonaro se comporta desde então como candidato. Faz mais campanha do que governa.
Bolsonaro tem errado mais do que se poderia imaginar. Dizem de certos candidatos que eles dispensam assessores seja para errar ou acertar; só fazem o que lhes passa pela cabeça. Bolsonaro é um desses. Leonel Brizola foi outro, assim como Ciro Gomes (PDT).
Dos seus assessores políticos Bolsonaro ouviu que parasse os ataques contra a Justiça Eleitoral, mas não parou. Sua última obra de arte foi reunir embaixadores de outros países para ouvi-lo falar mal do seu. Não tinha como dar certo, e não foi por falta de aviso.
Subestimou a reação da sociedade adormecida. Uma vez que ela acordou e começou a rugir, ele está perplexo. O erro só foi menor do que sua parceria com o vírus que matou quase 700 mil pessoas. Mas, a essa altura, pode ter sido o erro que lhe custará a reeleição.