Aí se entenderá porque Bolsonaro disse na convenção do PL que o lançou candidato que este seria o último, sem explicar porque o último. Talvez quisesse dizer o último 7 de setembro com ele na presidência, então preferiu deixar a frase sem conclusão.
O país parece ter acordado para o golpe cantado há mais de um ano por Bolsonaro. Mais de 100 mil pessoas assinaram até ontem a carta em defesa da democracia que será lida no próximo dia 11 nas arcadas do Largo do São Francisco, no centro de São Paulo.
A Federação das Indústrias de São Paulo divulgará em breve sua própria carta em defesa da democracia, e a Federação Brasileira dos Bancos anunciou que a subscreverá. Outras cartas estão por vir, bem como manifestações de ruas convocadas pela oposição.
É uma pena que restabelecida há apenas 37 anos a democracia corra perigo; que o que à época foi chamado de “sociedade civil” seja obrigada outra vez a sair em seu socorro. Tudo isso provocado por um presidente órfão da ditadura que não pôde desfrutar.
Mas, ele está ficando isolado. Sob pressão, seu descarado aliado, Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, recuperou a voz e disse que não contem com ele para desestabilizar a democracia. Foi na convenção do seu partido e a poucos metros de Bolsonaro.
Valdemar Costa Neto, ex-mensaleiro, presidente do PL que abriga Bolsonaro, procurou o ministro Edson Fachin, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, para dizer-lhe que sua sigla está fora de qualquer conspirata e é devota da democracia desde o berço.
A instância responsável pelo funcionamento do sistema eleitoral é a Justiça Eleitoral e as Forças Armadas não têm que se meter com isso, proclamou o general Luís Carlos Gomes Mattos, presidente do Superior Tribunal Militar, que está prestes a se aposentar:
“Nós temos uma Justiça Eleitoral e ela é a responsável pelo funcionamento real daquilo [eleições]. Nossa missão é diferente, não temos que nos envolver. Temos que garantir que o processo seja legítimo e tudo. Essa é a missão das Forças Armadas”.
Faz 10 dias que Bolsonaro usou o Palácio da Alvorada e a estrutura do governo para apresentar a embaixadores estrangeiros suspeitas já desmentidas sobre a insegurança das urnas eletrônicas. Ou seja: para afirmar que não confia no sistema pelo qual se elegeu.
Agastado com as reações à sua fala, Bolsonaro vê-se forçado agora a dizer que “vivemos num país democrático, defendemos a democracia, e não precisamos de nenhuma cartinha para defender a democracia”. Seu alvo preferencial: empresários e banqueiros.
Bolsonaro subitamente converteu-se à democracia? Não senhor. Recuo tático para depois novamente avançar.