Foi para o lixo uma das recomendações feitas por assessores de Bolsonaro às vésperas do lançamento de sua candidatura à reeleição: nada de atacar as urnas eletrônicas no discurso a ser ouvido por um Maracanãzinho lotado; e nada de criticar ministros do Supremo Tribunal Federal ou do Tribunal Superior Eleitoral.
Mal desembarcou, ontem, no Rio, depois de mais uma Marcha com Jesus, desta vez em Vitória, no Espírito Santo, Bolsonaro não se conteve e foi logo dizendo o que deverá repetir hoje:
“Ninguém consegue entender o senhor Fachin não aceitar as sugestões das Forças Armadas, que foram convidadas a integrar uma comissão de transparência eleitoral. As Forças Armadas, que é minha, que é do povo brasileiro, não servirão de moldura para uma fotografia do TSE”.
Fachin é o ministro Edson, que em breve passará o cargo de presidente do Tribunal Superior Eleitoral ao colega Alexandre de Moraes. Os dois são os sacos de pancada preferidos de Bolsonaro, que já chamou Alexandre de “canalha”, e Fachin de comunista e advogado do Movimento dos Sem Terra, coisa que ele nunca foi.
“Eu estou pronto para conversar com ele, sem problema nenhum. Eles convidaram as Forças Armadas”, prosseguiu Bolsonaro. “É impressionante que a grande mídia não tenha mais a curiosidade investigativa. Tem um inquérito da PF desde 2018 com informações prestadas pelo próprio Tribunal Superior Eleitoral”.
O tal inquérito é sobre a invasão por um hacker do sistema de computadores do tribunal. Isso em nada afetou os resultados das eleições daquele ano, uma vez que as urnas eletrônicas não são acessíveis pela internet. Bolsonaro sabe disso, mas não resiste a espalhar notícia falsa. Aposta na ignorância dos seus devotos.
“A eleição não é do TSE, não é do Supremo, não é do Executivo, nem do Legislativo, as eleições são do povo. E o povo quer ter certeza em quem ele votou”, completou. Mais de 70% dos eleitores dizem confiar nas urnas eletrônicas. Parte dos que não confiam dão ouvidos a Bolsonaro – entre eles, militares que o cercam.
Bolsonaro apela para a desordem no caso de não se reeleger. À falta de imaginação, copia o que fez Donald Trump ao ser derrotado por Joe Biden. O Centrão, que há quatro anos ele dizia abominar, hoje o apoia, e ele ao Centrão, mas não para melar as eleições. O Centrão não rasga dinheiro nem mandato.
Que políticos eleitos irão concordar com Bolsonaro se ele disser que perdeu por que as eleições foram fraudadas? Os votos para presidente, governador, senador, deputado são dados nas mesmas urnas e apurados da mesma maneira. Ou se anula a eleição para todos os cargos ou não se anula para nenhum.
Os políticos, depois de 2 de outubro, data do primeiro turno, deixarão Bolsonaro falando sozinho.