Algumas vezes nesse país você tem que respirar fundo e acreditar firmemente que as coisas vão mudar. Porque qualquer outro pensamento vai trazer um desânimo profundo.
Essa semana que passou foi uma das semanas mais tensas que acompanhei na política nos últimos anos. Teve elogio à agressor, morte em nome da política, presidente culpando a esquerda pelas mortes, estupro em sala de parto e uma sessão na Câmara dos Deputados que, no bom português...pelamordedeus. O que foi aquilo?
Falei bastante nas televisões essa semana sobre os temas mencionados aqui mas deixo para a coluna algo que me impactou e ainda não tive a oportunidade de comentar: o que foi a sessão presidida pelo Arthur Lira na aprovação da PEC Kamikaze?
Lira tentou burlar a noite. Isso, mesmo. A sessão terminou terça sem a votação e em vez de mobilizar os parlamentares para uma nova sessão na quarta ele queria que uma fosse continuidade da outra. Como se a noite não tivesse existido! Mas não para por aí...a pior manobra foi ter permitido o voto remoto quando ele só é possível, pelas regras da Câmara, nas segundas e sextas.
Lira mudou as regras do jogo no meio do jogo!!! Essa quarta-feira foi um show de horrores onde vimos o presidente da Câmara literalmente achando-se um deus mudando as regras conforme sua vontade. Lira não quer entregar o poder.
Ninguém quer, mas ele está se mostrando um manipulador de primeira categoria (ou de última, como preferirem). O que vimos nessa semana, as manobras aliadas à aprovação da PEC Kamikaze, já seriam suficientes para as pessoas estarem nas ruas. Mas estamos adormecidos (talvez esperando a Copa do Mundo?).
E nossas instituições? Onde estão que não se manifestam? Sempre defendi nosso sistema em que um vigia o outro mas estou começando a achar que “na teoria a prática não funciona”. É desesperador ver Brasília operando como se o resto do país fosse um barco naufragando que ninguém liga.
Os líderes nas pesquisas estão mais preocupados em culpar uns aos outros do que realmente mudar. A PEC foi aprovada. Com ela, nosso destino foi selado. Ano que vem o leite vai para 12 reais. Não vamos ter dinheiro e o médio empreendedor vai sofrer como nunca. Os juros vão consumir seu negócio e isso não é minha opinião, e sim, matemática pura e simples.
A oposição foi tão irresponsável como qualquer outro parlamentar. Aliás, que oposição, meus amigos? Fomos deixados para afundar. Arthur Lira é o presidente num país onde quem deveria sentar na cadeira no Palácio do Planalto está em motociatas distribuindo bravatas e falando frases de efeito para uma claque anestesiada.
Lira faz o que quer. Vai colocar as mãos no orçamento secreto e vai seguir mandando no país. Lira é o Senhor da Nação. Se Bolsonaro vencer, ele toma o poder. Se Lula vencer, certamente terá que sentar à mesa de negociações. Lira já mostrou que sabe trabalhar firme pelo que quer.
Um dia, meus amigos, vamos estudar esses arroubos autoritários. Torço para que as futuras gerações olhem para esse momento com espanto e tristeza. E não com a sensação de normalidade que estamos olhando. O que aconteceu no Congresso essa semana foi uma prévia do que deve acontecer nas eleições. Nada é medido para que se mantenha o poder do Estado.
Vale roubar, burlar as regras, unir-se a inimigos...desmoralizando dia a dia as instituições brasileiras. Estamos submissos a um rei que anda pelas sombras comandando todas as forças do país. Hoje, Arthur Lira é presidente, parlamentar e juiz. No país de Lira, roubar é cotidiano.
Se não reagirmos, mortes como as de domingo serão a regra.