Seis dos onze senadores da CPI da Covid-19 avaliam que o governo Bolsonaro errou na condução da crise sanitária
Apenas quatro congressistas estão alinhados ao Planalto, enquanto dois se opõem ao presidente e cinco atuam de forma independente
A CPI da Covid-19 está prevista para começar na próxima terça-feira
A maioria dos senadores da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid-19 acredita que o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) errou na condução da crise sanitária no Brasil.
De acordo com levantamento do jornal O Estado de S. Paulo, a gestão federal falhou para seis dos onze senadores da comissão, prevista para começar na próxima terça-feira (27).
Aliados do governo são minoria na CPI. Dos 11 integrantes, apenas quatro estão alinhados ao Palácio do Planalto, dois fazem oposição e outros cinco atuam de forma independente, mudando de posição de acordo com seus interesses. Dos seis que apontam erros de Bolsonaro na pandemia, quatro são deste último grupo.
O senador Renan Calheiros (MDB-AL), que, por acordo entre os partidos, deve assumir a função de relator, é um dos que veem responsabilidade do presidente na falta de controle da doença no país.
"Em todos os momentos esse assunto foi mal conduzido pelo governo. Acho que o governo continuará errando, mas ele tem características, a essa altura, bastante conhecidas", afirmou Renan em entrevista a O Estado de S. Paulo em 16 de abril.
Dos 11 integrantes da comissão, cinco disseram ser favoráveis a também convocar governadores para prestarem esclarecimentos sobre como usaram recursos federais durante a pandemia. Renan não quis se posicionar sobre este ponto e condicionou ouvir gestores locais ao avanço das investigações do colegiado.
"Você não pode fazer uma CPI contra governadores ou prefeitos ou contra o presidente da República. Tem de fazer a investigação", declarou o emedebista.
A opinião é compartilhada pelo líder do MDB, senador Eduardo Braga (AM), que deve disputar o governo do Amazonas nas eleições do ano que vem: "Havendo conexão, no caso de má aplicação de recursos repassados pela União, governos estaduais, municipais e até mesmo instituições poderão ser chamados a depor".
Provável presidente da CPI, o senador Omar Aziz (PSD-AM) evitou responder se vê equívocos de Bolsonaro na crise sanitária. "As ações do governo federal serão investigadas para apurar eventuais responsabilidades", disse ele.
O senador Eduardo Girão (Podemos-CE) corre por fora para assumir o posto. Mesmo alinhado ao Planalto, ele entende que houve, erros da gestão federal, mas relativiza a responsabilidade de Bolsonaro: "A pandemia é um quadro severo de crise jamais enfrentado por outros governos. É natural que tenham ocorrido problemas na condução".
Autor do requerimento que resultou na CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) afirmou que o governo é "totalmente" responsável pelos problemas enfrentados pelo país. "Esse é o fato primeiro a ser investigado na CPI. As ações e omissões que nos levaram ao atoleiro sanitário em que estamos. Nossa hipótese é de que o governo tem responsabilidade nisso", disse o senador.
Humberto Costa (PT-PE) endossa a opinião de Randolfe: "Tenho convicção de que errou redondamente e tem total responsabilidade".
Uma versão preliminar do plano de trabalho da CPI prevê investigar questões como o atraso na compra de imunizantes, a omissão do Ministério da Saúde no colapso na rede de saúde de Manaus no início do ano e a insistência de Bolsonaro em recomendar remédios que, além de ser ineficazes para a Covid-19, podem levar pacientes à fila dos transplantes.
A CPI foi proposta inicialmente com o objetivo de investigar apenas as ações e omissões do governo federal na pandemia. Após pressão do Planalto, no entanto, o alvo do colegiado foi ampliado e passou a incluir eventuais desvios de recursos federais enviados a Estados e municípios.