Um ano depois, a divulgação do vídeo ainda cobra fatura a Bolsonaro. Mas de frente imprevista para Moro. O “vou interferir e ponto final” proferido por Bolsonaro naquela manhã pouco é lembrado. É o “passar a boiada”, dito no encontro pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, a conta com a qual o Palácio do Planalto ainda tem de lidar.
Bolsonaro falou nesta quinta à Cúpula do Clima sob pressão inédita para polir a imagem do governo na gestão do meio ambiente, capitaneada até hoje pelo ministro que sugeriu naquela reunião aproveitar a atenção dada pela imprensa ao avanço da pandemia para “mudar todo o regramento” da área ambiental. O plano para “passar a boiada” virou o símbolo de um governo hostil à preservação da Amazônia aos olhos de investidores, empresários e líderes mundiais.
Já a crise que Moro esperava acender com a revelação de um presidente pouco comprometido com o combate à corrupção esvaiu-se. Bolsonaro tratou de reagrupar seus ministros, abraçou o centrão, limou o lavajatismo do discurso, mudou por duas vezes o chefe da Polícia Federal - e quem mais quis lá dentro sem ser incomodado. Fez seus seguidores da direita mais radical enxergarem um inimigo no ex-juiz, que já tinha a esquerda a odiá-lo.
Moro saiu. Salles permaneceu. A agenda ambiental seguiu em xeque e a interferência na Polícia Federal ganhou novos capítulos. Recentemente, o novo diretor-geral, Paulo Maiurino, decidiu tirar do cargo o chefe da PF no Amazonas. Ele havia pedido ao Supremo Tribunal Federal uma investigação contra Salles por obstruir uma apuração contra extração ilegal de madeira.
A política virou terreno difícil para Moro, que agora também tem seu legado como juiz sob ataque. Sairá do plenário da corte também nesta quinta a decisão definitiva sobre se ele agiu com correção ou se julgou de forma parcial o ex-presidente Lula.
Aliados em 22 de abril de 2020, Bolsonaro e Moro chegam a 22 de abril de 2021 em campos irremediavelmente opostos. Mais uma vez, porém, com batalhas a enfrentar. Bolsonaro precisa convencer o mundo de que tem alguma disposição para impedir a boiada de avançar destruindo ainda mais a floresta amazônica. Moro precisa que parte do Supremo ainda esteja convencida de que ele foi um juiz correto.