Não sei se o Lula já telefonou para Ciro, manifestando sua solidariedade e convidando-o para uma grande frente em defesa da democracia. Deveria fazer, não apenas por cortesia, também como um gesto político de unidade das forças desarmadas para enfrentarem as forças armadas se elas sairem da legalidade.
As manifestações do atual presidente e de mandatários das Forças Armadas colocando sob suspeita aos ministros do supremo e às urnas eletrônicas deixam clara a intenção de contestar os resultados eleitorais. Não se sabe como, mas possivelmente haverá tentativa de barrar os resultados se indicarem derrota do atual presidente e seu esquema político-militar: Centrão-Caserna.
Poderão invadir o local onde a apuração é centralizada, provocar incêndio nos locais ou acidentes de trânsito contra os ministros e técnicos do Tribunal Superior Eleitoral, interromper o fornecimento de eletricidade, colocar em votação no Congresso a prorrogação de todos os mandatos, inclusive dos parlamentares que tiverem sido derrotados, mas ainda terão mandato, poderão ser usados milícias e provocadores para desordens e assassinatos; ou os comandantes tiram o Bolsonaro, sob argumento que ele ameaça a democracia que o elegeu, colocam Mourão na presidência e adiam as eleições. Não se sabe que truques usarão, mas devem ter aprendido com Trump e farão melhor.
Diante disto, não há que esperar telefonema que Lula deveria tomar a iniciativa de dar em solidariedade ao Ciro. Esta não é a hora de colocar cortesia na frente de resistência. Todos que desejam manter a democracia precisam se unir, e o Lula representa a maior chance de vencer Bolsonaro e barrar o golpe com uma vitória acachapante. Não temos de esquecer discordâncias, descontentamentos, até medos de radicais do PT, mas esta não é hora de esperar cortesia dos outros, nem sermos dominados por discordâncias e críticas que ainda mantemos. O momento exige opção.
O adiamento da decisão para o segundo turno é uma temeridade. Doria já disse que votará nulo no segundo turno. Ciro não será o último a ser processado pelas Forças Armadas. Lula pode ser o próximo.
Li artigo recente sugerindo que Lula ligasse para Marina Silva para juntos tratarem da eleição de 2022.
Considerando a importância desta grande líder, acho que ele já devia ter feito isto há bastante tempo. Não apenas porque a manifestação do voto dela pode significar a vitória no primeiro turno que o Brasil precisa, mas também por toda colaboração que ela pode dar na formulação de um plano de governo no que se refere aos aspectos do meio ambiente, da Amazônia, da proteção aos povos amazônicos, da defesa da estabilidade do Real, como sinalizou em sua campanha em 2018.
Marina merece e o Brasil precisa de uma conversa com o candidato Lula. Mas a realidade exige também que, sem esperar qualquer gesto dele, aqueles que têm discordâncias com Lula e com Alckmin, com o PT, MDB e o Rede, manifestem desde já o apoio a ele, logo no primeiro turno. O Brasil não deve correr o risco de chegar no primeiro turno com os democratas divididos, e no segundo turno com o voto nulo crescente, insuflado pela terceira via, com o país fraturado durante um mês, entre os armados, que hoje perseguem Ciro, e os desarmados brigando entre si.
Ciro, liga para o Lula. Está na hora! Não espere que ele ligue para você.