Atacada na tarde de segunda-feira, 20, a procurada ficou com diversos ferimentos pelo corpo, especialmente no rosto. Ela acredita que as agressões foram motivadas por ter aberto uma proposta de procedimento administrativo contra Macedo após ser procurada por uma funcionária sobre atitudes hostis. Horas antes do episódio de violência, uma publicação do Diário Oficial determinou a criação de uma comissão para apurar a situação.
Diante da repercussão do caso e andamento das investigações, Gabriela se vê ainda como uma exceção no cenário de violência contra a mulher no País. “Estou sendo muito ‘privilegiada’. Muitas mulheres viram só estatística. Estou podendo mostrar que as instituições podem fazer valer a lei”, diz. “A gente está lutando para que isso aconteça, para que se crie uma cultura (de combate à violência contra a mulher).”
Ela considera que o caso que viveu é sintomático de uma sociedade que considera ainda ser patriarcal. “No meu caso, dá pra ver claramente uma pessoa machista, que não aceitava ordem de mulher”, diz.
“Ele tentou me subjugar (durante a agressão), me menosprezar pela minha condição, pela minha compleição física, pela diferença de tamanho. Isso não pode acontecer: as pessoas têm que estar ombreadas, não uma acima da outra, uma menor que a outra, ainda mais em um ambiente de trabalho”, afirma. “A mulher tem que conquistar o seu espaço no trabalho, na sociedade, e gente tem que lutar para que isso aconteça.”
Vídeo:
Procurador municipal agride colega em Registro (SP)
Para ela, a repercussão das imagens de parte da agressão ajudarão na investigação do caso e em uma maior discussão sobre a violência contra a mulher na sociedade. “Sensibilizou muita gente. Isso evidencia o patriarcado que as mulheres ainda vivem. Traz à tona essa questão da violência que muitas mulheres sofrem, essa inversão de valores: enquanto o agressor está solto, a vítima tem que se esconder pra não ser agredida, pra não ser violentada.”
Ambos trabalhavam juntos desde 2013. Segundo a procuradora, Macedo já havia deixado evidente a insatisfação com a ascensão de mulheres no ambiente em que estavam, especialmente após outra colega ser nomeada como procuradora.
“A forma de comunicação não formal dele era violenta, de ignorar, de negligenciar as necessidades e a rotina da gente. Enquanto a gente estava atribulada, não oferecia ajuda para as coisas de trabalho.” A procuradora pretende processar Macedo no âmbito civil, por danos morais e estéticos.
Amigos e conhecidos de Macedo disseram que ele teve uma grande mudança de comportamento depois que perdeu o pai, a quem era muito ligado, há pouco mais de um ano. “Não tenho certeza se a morte foi por covid, mas parece que sim. O fato é que ficou muito fechado, introspectivo”, contou um amigo, que pediu para não ser identificado. Outro colega, da época de faculdade, disse que se tratava de um estudante aplicado e muito ligado à família. Conforme o site Jusbrasil, Demetrius já atuou em 1.189 processos.
Antes de perder o pai, Demetrius fazia musculação em uma academia de Registro. "Ele se preocupava com o visual, com o aspecto físico, sim, mas isso antes de sofrer a perda familiar." A ex-namorada do procurador não atendeu a reportagem.
Demetrius mantém página na rede social Facebook, mas o conteúdo é restrito a amigos. As postagens revelam interesse por livros e culinária. O registro na secção de São Paulo da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) foi obtido em 20 de janeiro de 2011. Ele iniciou a carreira jurídica como advogado, com escritório na rua Diogo de Castro, no Jardim São Paulo, zona leste da capital.
A ex-prefeita de Registro, Sandra Kennedy (PT), que atualmente é vereadora na cidade, relata que Demetrius foi o primeiro procurador concursado do município. “Logo começou a pressionar para ser o secretário de Assuntos Jurídicos. Como eu não cedi à pressão, ele passou a atuar em meu desfavor.”
Nesta quarta-feira, cerca de 400 mulheres fizeram uma manifestação em Registro contra a misoginia (desprezo pelas mulheres e valores femininos) e pedindo justiça em defesa da procuradora agredida. O grupo reivindicou a nomeação de delegadas para as Delegacias da Mulher no Estado. "Em Registro, temos delegacia da mulher, mas não tem delegada, como acontece na maioria das outras cidades paulistas", disse a vereadora.