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11/06/2022 às 17h20min - Atualizada em 11/06/2022 às 17h20min

Boletim do golpe (8) – Bolsonaro, o general e o choro dos perdedores

Cabe somente à Justiça tutelar o processo eleitoral, aos militares, não

Ricardo Noblat
https://www.metropoles.com/
Igo Estrela/Metrópoles
Para livrar da cadeia o deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), condenado e cassado pelo Supremo Tribunal Federal por ataques à democracia, Bolsonaro alegou, entre outras razões, que a sociedade se encontrava “em legítima comoção”.
 

Encontrava-se em comoção coisa nenhuma. Fora os bolsonaristas que pedem a volta da ditadura com a desculpa de que exercem o direito à livre expressão, ninguém mais ligou para a condenação de Silveira. Ele não será preso, mas cassado e inelegível está.

Vem agora o general Paulo Sérgio, ministro da Defesa, e afirma em nota que as Forças Armadas se sentem desprestigiadas pela Justiça Eleitoral que não leva em conta seus palpites para aprimorar o sistema de apuração eletrônica dos votos. Falsa alegação.

Submetida antes ao exame de Bolsonaro que a encomendou, a nota diz a certa altura:

“A todos nós não interessa concluir o pleito eleitoral sob a sombra da desconfiança dos eleitores. Eleições transparentes são questões de soberania nacional e de respeito aos eleitores”.

Depois de eleito presidente, Bolsonaro começou a pregar o retorno do voto impresso. Chegou ao ponto de dizer que as eleições de 2018 foram fraudadas para impedir sua vitória no primeiro turno. Provas? Nenhuma. Mas ele dispensa provas para dizer o que quer.

Apresentou alguma em defesa da eficácia da cloroquina contra o vírus? Quantos milhares de pessoas não morreram por terem acreditado na palavra dele? Vale-se da mentira para governar e quanto mais afunda, mais mente sem um pingo de vergonha.

Desacreditar o voto eletrônico pelo qual se elegeu tantas vezes deputado federal e, por último, presidente, faz parte da estratégia de construir uma saída para a derrota que se avizinha. Ou dirá que foi roubado e irá para casa, ou tentará dar um golpe.

Ao presidente Joe Biden, com quem se reuniu na Cúpula da Democracia, assunto estranho a um órfão confesso da ditadura militar como ele é, Bolsonaro disse que deseja ficar ou sair por meio de eleições limpas e auditáveis. Auditáveis serão, manda a lei.

Mas se ele julgar que limpas não foram? Convocará militares que o apoiam, milícias armadas com sua ajuda, colecionadores de armas para permanecer aonde está? Disse-lhe Biden, desta vez diretamente, que os Estados Unidos não apoiarão um golpe.

Como não fala inglês, um estafeta traduziu para Bolsonaro a fala de Biden. Mais tarde, um porta-voz do Departamento de Estado americano repetiu o recado. É o mesmo que ele já ouviu da boca de embaixadores de países da Comunidade Europeia.

Três em cada quatro eleitores (73%) confiam nas urnas eletrônicas usadas nas eleições; desses, 42% confiam muito e 31% confiam um pouco. Um quarto (24%) não confia nas urnas eletrônicas e 2% não opinaram na mais recente pesquisa Datafolha.

Em comparação à última pesquisa, de março, a taxa de quem confia nas urnas eletrônicas (82%) recuou oito pontos percentuais (esta é primeira vez que o índice recua), enquanto a taxa de quem não confia cresceu sete pontos percentuais.

O índice de confiança nas urnas eletrônicas é majoritário em todas as variáveis sociodemográficas e alcança taxas mais altas entre os mais instruídos (79%), entre os eleitores de Lula (82%) e entre os que reprovam o governo Bolsonaro (83%).

A taxa de desconfiança é mais alta entre os empresários (38%), entre os evangélicos (31%), entre os eleitores de Bolsonaro (40%) e entre os que aprovam o governo Bolsonaro (43%). É o efeito Bolsonaro que a Justiça Eleitoral combate com forças desarmadas.

A ninguém é proibido sugerir mudanças para tornar ainda mais seguro o processo de apuração eletrônica de votos, por mais que ele nunca tenha registrado um único caso de fraude. Mas cabe somente à Justiça tutelar o processo. O resto é choro de perdedor.


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