A visão dos dois países agora é diferente. Análise dos pesquisadores Colin Wall e Sean Monoghan, apresentada na semana passada pelo Centro de Estudos Internacionais e de Estratégia (CSIS, na sigla em inglês), citada acima, mostra essa transformação. Por exemplo: pesquisas de opinião apontam que na Finlândia, em março, 62% da população eram favoráveis ao país se tornar membro da OTAN. Essa porcentagem em 2017 não passava de 21%. Com isso, o Parlamento finlandês estará debatendo nas próximas semanas esse relatório. Mesmo com a eventual adesão, a população finlandesa segue contra a instalação de armas nucleares no país.
Na Suécia, a população já se mostrava mais favorável. Depois do início da guerra na Ucrânia, os números se acentuaram, passando de 31% para 59%. Mas questões partidárias se mostram fundamentais naquele país: a centro-direita já era a favor, a extrema-direita resolveu reavaliar sua oposição e os sociais democratas (à frente do governo sueco), também contrários, partiram para um intenso debate interno – afinal, a adesão (ou não) à OTAN poderá influir nas eleições gerais de setembro. Os parlamentares ainda discutem se o pedido de adesão precisará de maioria simples ou dois terços dos votos do plenário.
A expectativa é que os dois países encerrem esses debates e aprovem o pedido oficial – e conjunto – nestes dois meses, antes da cúpula em Madri da OTAN, em junho. Jens Stoltenberg, secretário-geral da organização, não vê impedimentos para acelerar o processo, mesmo porque há uma preocupação significativa quanto ao período até a transição. Haveria brechas para interferência da Rússia nesse meio tempo, quando os dois países ainda não podem receber “proteção” oficialmente, como membros. Há o temor de ataques russos cibernéticos e militares.
A ação dos países nórdicos, assim como a decisão da Alemanha de reaparelhar suas Forças Armadas, marca a maior reviravolta geopolítica na Europa desde o fim do Muro de Berlim. Vladimir Putin invadiu a Ucrânia, entre outros motivos, porque contava com a decadência da OTAN (que foi criticada por Emmanuel Macron e tripudiada por Donald Trump), mas a aventura militar do russo fez a aliança se fortalecer. Por isso, Putin reforça a ameaça nuclear e acena com maior presença militar no Mar Báltico. Assim como enfrenta dificuldades no país vizinho, também essa batalha na Europa ele corre o risco de perder.
Adesão: passo a passo
São várias etapas até um país se tornar membro da OTAN. Primeiro, é preciso aguardar a decisão nacional, para informar sua aspiração à aliança militar (como já fizeram Geórgia e Ucrânia). A OTAN então envia um convite para que o país se candidate. Em seguida, o aspirante precisa assegurar que atende a critérios políticos, militares e econômicos, além de concordar com conceitos democráticos e pela paz. Aí vem o essencial: mostrar que está preparado para comparecer com investimentos nas forças armadas da OTAN.
O país recebe o Plano de Ação dos Membros (a Bósnia-Herzegovina está nessa fase) e na sequência o Protocolo de Adesão é enviado às respectivas casas legislativas. Somente ultrapassada mais essa fase burocrática é que o país é convidado a aderir à OTAN. Mas ainda terá de passar pela ratificação dos 30 países-membros e algum pode retardar o processo (como a Hungria já teria feito). No caso da Macedônia do Norte, o mais recente país aceito, foram 13 meses no total.