BRASÍLIA - O Republicanos se afasta cada vez mais de Jair Bolsonaro (PL). Apesar de integrar a base aliada do presidente no Congresso, o partido avalia anunciar neutralidade na eleição presidencial. Em entrevista ao Estadão/Broadcast, o líder da sigla na Câmara, deputados Vinícius Carvalho (SP), reforçou a insatisfação.
Segundo ele, faltam "lealdade" e "respeito" por parte do governo.
A janela partidária, que vai de 3 de março a 1.º de abril, está no centro do imbróglio. Carvalho afirmou que o Palácio do Planalto tem orientado parlamentares a privilegiarem o PL na hora de trocar de legenda. “Nós não queremos cargos, queremos ser reconhecidos e respeitados pelo potencial que nós temos e pela relevância política que nós temos”, disse o líder. “Nós queremos ser respeitados.”
O que se falava nos bastidores ficou escancarado na semana passada, quando o presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), declarou que, até então, Bolsonaro só havia atrapalhado o crescimento do partido. De acordo com Carvalho, com a orientação a aliados para se filiar prioritariamente ao PL, pelo menos um deputado do Republicanos vai abandonar a legenda para seguir a indicação do Planalto.
Para Carvalho, a oferta de ministérios em um eventual segundo mandato de Bolsonaro não resolve a situação. “Nós não vivemos no tempo do futuro. Nós vivemos no hoje.”
O Republicanos confirmou a filiação do vice-presidente Hamilton Mourão. Isso reduz a insatisfação do partido com o governo?
Não tem a ver com o governo. Esse ato de filiação do vice-presidente ao Republicanos é um alinhamento dele com relação ao perfil e ao programa ideológico do partido. Ele certamente procurou um partido que se identificasse com o seu perfil. O vice-presidente da República é leal à instituição Presidência da República, mas, quanto ao ponto de vista dele de percepção social, política, mundial, ele tem o pensamento dele de independência.
Quando foi feita essa composição do PP, do PL e do Republicanos, (ficou acertado) que se deixasse à vontade para que os parlamentares que saíssem de outras chapas pudessem ter a liberdade de escolher qual seria o partido, entre esses três, no qual eles entrariam. O que está havendo, e percebe-se isso, é uma indicação, uma orientação para preferir um em detrimento de outros. Ou seja, não está havendo a reciprocidade da relação de lealdade.
Está faltando a lealdade no cumprimento de uma relação de governabilidade. Os três partidos fazem parte da base de sustentação do governo. Então, tem que ter, por parte dos deputados que acompanham o governo, uma liberdade para escolher com qual partido ele se identifica, não serem orientados para fazer o que eles não querem. Quem está orientando eu não sei dizer se é o presidente da República ou se não é.
Só que nós não vivemos no tempo do futuro. Nós vivemos no hoje. Então, a promessa de que, após eleição e a reeleição do presidente, vai ter espaço para ministério não condiz com a prática de quem durante quatro anos trabalhou com lealdade a base de sustentação do governo. Não estamos falando de um partido que é estranho ou está chegando agora. É um partido que, em 90% de suas votações, tem sido leal às orientações do governo, porque entendemos, não por subserviência, a importância de se criar mecanismos para o desenvolvimento econômico, o desenvolvimento social.
Esse histórico de lealdade do Republicanos deveria ser, a meu ver, levado em consideração em qualquer tipo de menção sobre o Republicanos. Não é um partido aleatório e distante da governabilidade, é um partido de extrema importância e que tem protagonismo. Nós temos o presidente nacional da Executiva, Marcos Pereira, que já foi vice-presidente da Câmara dos Deputados. Ele é respeitado pela palavra que cumpre, pela credibilidade que tem construído como deputado. Então, isso não está sendo levado em consideração. Nós não queremos cargos, queremos ser reconhecidos e respeitados pelo potencial que nós temos e pela relevância política que nós temos. Nós queremos ser respeitados.
Dos parlamentares do Republicanos que já ventilaram uma possibilidade de sair do partido, apenas um disse que sairia porque seguiria a orientação do presidente. Nós temos no Republicanos três deputados que já disseram que sairão, eu me reservo a condição de não poder citar os nomes, porque é preciso esperar as coisas acontecerem.
Nós vivemos num cenário de narrativas. Então, todo mundo que tem a sua narrativa própria, de todos os lados, faz uma análise colocando sempre o seu posicionamento como sendo o mais importante ou sendo o mais verdadeiro. Existe, de um lado e de outro, versões. Então, quanto a essa percepção de se prejudica ou não uma reeleição, isso faz parte de um cenário político dentro das narrativas.
Isso vai ser decidido em abril, após a reunião com a Executiva nacional e os presidentes estaduais do partido. Nós devemos observar e ouvir primeiro as peculiaridades de cada Estado. Vai ser o colegiado que vai decidir, não uma pessoa só.
O presidente Marcos Pereira, embora sendo bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, assim como eu também sou pastor licenciado, trata da questão como sendo política, dentro de uma visão política que é discutida na bancada do Republicanos. Isso é o que posso afirmar. Se teve ou não essa ação dele com a liderança eclesiástica da Igreja eu não tenho como dizer.