Um vídeo publicado nas redes sociais pelo médico Márcio Antônio Souza Júnior, conhecido na cidade de Goiás, antiga capital do estado, como Doutor Marcim, chocou a população local. Ele filma um homem negro acorrentado pelos pés, mãos e pescoço, enquanto ironiza a escravidão. “Aí ó, falei para ele estudar, mas ele não quer. Então, vai ficar na minha senzala”, diz o médico na filmagem.
O vídeo, segundo a Polícia Civil de Goiás (PCGO), foi publicado por ele no Instagram nessa terça-feira (15/2) e apagado logo em seguida. As imagens teriam sido registradas em uma escola da zona rural da cidade, chamada Escola Municipal Holanda. Veja:
Médico de Goiás acorrenta homem negro e ironiza escravidão: "minha senzala"
Seguidores do médico gravaram a tela do celular para salvar a publicação e o caso, logo, chegou ao conhecimento da polícia local. O delegado Gustavo Cabral é quem está à frente da investigação. Na tarde desta quarta-feira (16/2), ele deve ouvir o relato do homem que aparece acorrentado no vídeo.
Em relação ao médico, ele informou ao Metrópoles que ainda não havia conseguido intimá-lo até o início desta tarde. O delegado chegou a falar com familiares de Márcio, mas não o localizou no endereço residencial. Ele acredita que será possível interrogar o médico até quinta-feira (17/2).
“Tenta fugir” - Em outra parte do vídeo, o médico diz, enquanto gargalha: “tenta fugir”. O homem acorrentado responde: “tem como, não”. Depois, Márcio Antônio complementa: “Pode ir embora”. E o homem, cuja identidade não foi divulgada, retruca: “Vai, mas demora”. A polícia não sabe dizer, ainda, qual é o tipo de vínculo entre o médico e o homem acorrentado, se são patrão e funcionário ou amigos. Os interrogatórios preliminares, além de esclarecer essa relação, vão servir, segundo o delegado, para fundamentar o caso e averiguar se houve prática de constrangimento ilegal ou crime de ordem racial.
Brincadeira? - Gustavo Cabral contou que existem outros vídeos publicados pelo médico nas redes sociais que indicam certo hábito dele de fazer brincadeiras. O perfil de Márcio Antônio é trancado no Instagram, mas o delegado revelou ao Metrópoles que ele fez um outro vídeo ao lado do homem que foi acorrentado, tentando explicar o ocorrido. O médico alegou que foi uma brincadeira. Se assim for confirmado, a polícia já adianta que foi um ato de “profundo mau gosto”, conforme nota divulgada nesta quarta.
Contato - Márcio Antônio é de família tradicional e bastante conhecida na cidade. A reportagem tentou contato com ele ou com algum representante, inclusive por meio do pai, que também é médico, mas não obteve resposta até o momento. O espaço segue aberto.