O presidente Jair Bolsonaro (PL) disse, nesta segunda-feira (10), que considerou “agressiva” a carta do diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres.
O embate público entre Barra Torres e Bolsonaro começou na quinta-feira (6). Um dia depois de o governo federal anunciar o cronograma de imunização infantil contra a Covid-19, Bolsonaro concedeu uma entrevista à TV Nova Nordeste, de Pernambuco, e acusou técnicos da Anvisa de terem “interesse” por trás da imunização.
Na noite de sábado (8), Barra Torres, emitiu uma nota na qual rebateu as falas feitas recentemente pelo presidente contra a campanha de vacinação contra a Covid-19 e exigiu uma retratação.
“Eu me surpreendi com a carta dele, agressiva, não tinha motivo para aquilo. Eu perguntei o que estava por trás do que a Anvisa está fazendo. Ninguém acusou ninguém. Eu que indiquei o almirante Barra Torres para a Anvisa, a indicação é minha”, disse Bolsonaro a jornalistas da Jovem Pan.
Bolsonaro voltou a questionar os dados sobre mortes de crianças por Covid-19. “Eu já perguntei para ele [Barra Torres] quantas crianças morreram durante a pandemia. No sul, durante o ano de 2021, não morreu nenhuma criança de 5 a 9 anos. Então, eu perguntei o porquê de liberar essas vacinas, sendo que constava tanto na bula da Anvisa quanto da Pfizer os efeitos colaterais.”
E também repetiu as acusações à Anvisa. “Eu não quero acusar a Anvisa de absolutamente nada. Agora, que tem uma coisa acontecendo, isso não há a menor dúvida. Pelo que estou sabendo agora, Anvisa vai deliberar sobre a CoronaVac para crianças a partir de 3 anos de idade. Eu não sei o que acontecerá no final, mas a Anvisa vai tomar sua posição. E, de uma forma ou de outra, vai sofrer críticas também”, disse Bolsonaro.
Ao longo da entrevista, o presidente voltou a se referir ao conflito com o diretor-presidente da Anvisa, numa analogia com indicações ao Supremo Tribunal Federal (STF) e chegou a sugerir que se arrepende da indicação de Barra Torres.
“Todos os últimos mandatos, de Dilma e Temer, indicaram ministros ao Supremo. Você pode associar os ministros a quem os indicou, deve. O candidato deve ter alguma convivência, afinidade comigo. Veja o Barra Torres, o indiquei sem que tivesse muita convivência com ele. Se tivesse mais afinidade, provavelmente não o teria indicado. Mas se tivesse que nomear, agora, já teria, sim, dois nomes para disparar.”
Bolsonaro havia dito, na entrevista do dia 6 de janeiro, que devia ter algo “por trás” da liberação das vacinas infantis.
“E você vai vacinar seu filho contra algo que o jovem por si só, uma vez pegando o vírus, a possibilidade de ele morrer é quase zero? O que é que está por trás disso? Qual é o interesse da Anvisa por trás disso aí? Qual é o interesse daquelas pessoas ‘taradas por vacina’? É pela sua vida? É pela sua saúde? Se fosse estariam preocupados com outras doenças do Brasil, que não estão”, criticou Bolsonaro.
Na nota divulgada no sábado, Barra Torres afirmou que não cometeu atos de corrupção. “Vou morrer sem conhecer riqueza, senhor presidente. Mas vou morrer digno. Nunca me apropriei do que não fosse meu e nem pretendo fazer isso, à frente da Anvisa. Prezo muito os valores morais que meus pais praticaram e que pelo exemplo deles eu pude somar ao meu caráter.”
Barra Torres também desafiou Bolsonaro a determinar investigação caso tenha conhecimento de indícios de irregularidades na agência. “Se o senhor dispõe de informações que levantem o menor indício de corrupção sobre este brasileiro, não perca tempo nem prevarique, senhor presidente. Determine imediata investigação policial sobre a minha pessoa, aliás, sobre qualquer um que trabalhe hoje na Anvisa, que com orgulho eu tenho o privilégio de integrar”, afirmou.
Por fim, Barra Torres pediu a Bolsonaro que se retrate caso não comprove nenhuma irregularidade na Anvisa. “Agora, se o senhor não possui tais informações ou indícios, exerça a grandeza que o seu cargo demanda e, pelo Deus que o senhor tanto cita, se retrate. Estamos combatendo o mesmo inimigo e ainda há muita guerra pela frente. Rever uma fala ou um ato errado não diminuirá o senhor em nada. Muito pelo contrário”, concluiu.
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