A médica sul-africana que fez o primeiro alerta às autoridades sobre a variante ômicron do coronavírus, recém-descoberta no país, disse que seus pacientes apresentaram sintomas leves, mas ressaltou que é necessário mais tempo até que a ciência tenha informações consolidadas sobre a nova cepa, como a gravidade da doença que ela provoca em pessoas vulneráveis.
Em entrevista ao jornal britânico The Telegraph, neste sábado (27), Angelique Coetzee, clínica-geral há 33 anos e presidente da Associação Médica da África do Sul, disse que o que acendeu seu alerta para a possibilidade de uma nova variante foram os sintomas leves mas "incomuns" apresentados pelos pacientes que a procuraram em seu consultório em Pretória.
"Os sintomas deles eram tão diferentes e mais leves daqueles que eu tinha tratado antes", afirmou. Ela citou que os pacientes eram pessoas jovens com fadiga intensa. Nenhum deles, no entanto, sofreu perda de paladar ou cheiro, sintoma relativamente comum da covid-19.
Em 18 de novembro, quando quatro membros da família testaram positivo para covid-19 e apresentaram exaustão excessiva, ela reportou o caso às autoridades.
No total, segundo a médica, cerca de 24 de seus pacientes tiveram teste positivo para covid com sintomas da nova variante -metade deles não se vacinou contra a covid-19. Eram na sua maioria homens saudáveis que apareceram "muito cansados".
A médica, no entanto, ressaltou que seus pacientes eram todos saudáveis e que está preocupada com a possibilidade da ômicron atingir pessoas mais velhas ou com comorbidades.
"O que temos que nos preocupar agora é quando pessoas mais velhas e não vacinadas forem infectadas com a nova variante, e se não forem vacinadas, veremos muitas pessoas com uma [forma da] doença grave", acrescentou ela.
"Não há grande fluxo de pacientes com casos graves sendo atendidos. Teria sido diferente se, nos últimos dias, tivéssemos visto pacientes chegando com sintomas há cinco dias com o estado deteriorado e piorando. Então teríamos dito que sim, que o mundo precisaria entender e que seria necessário conscientizar todos", disse Angelique, em entrevista à Globonews.
Variante de preocupação, diz OMS - A nova variante foi classificada pela OMS (Organização Mundial de Saúde) como "de preocupação" na sexta-feira (26). No entanto, a organização ressaltou que várias semanas serão necessárias para compreender o nível de transmissão e a virulência da nova variante do coronavírus, identificada como B.1.1.529.
A ômicron tem uma proteína de espigão diferente daquela do coronavírus original, na qual se baseiam as vacinas contra covid-19. Isso aumenta a preocupação de que a B.1.1.529 possa "escapar" da proteção dos imunizantes.Os especialistas trabalham agora para entender de fato o quanto a nova variante é mais transmissível, mais agressiva ou se pode superar parcialmente o efeito protetor das vacinas disponíveis. No momento, ainda não há detalhes maiores ou confirmações sobre nenhuma destas informações.
A Pfizer anunciou que levaria cerca de 100 dias para desenvolver e produzir uma vacina sob medida para a nova variante do coronavírus, caso necessário. Um porta-voz da farmacêutica informou que a empresa já está estudando a B.1.1.529 e deve divulgar os primeiros dados "em no máximo duas semanas".
Governos, inclusive o brasileiro, anunciaram o fechamento de fronteiras com países africanos, mas há uma série de medidas que ainda precisam ser tomadas para conter o avanço, segundo especialistas, como avanço da vacinação.
Na quinta-feira (25), a OMS divulgou que apenas 27% dos profissionais da saúde localizados na África já haviam recebido as duas doses da vacina contra covid.