A grande lotação em jogos como o clássico Atlético e América deste domingo (07/11) faz com que os fiscais do estádio apenas observem a existência de um teste ao lado do ingresso de cada torcedor, mas não há uma conferência minuciosa do documento que é medida contra a disseminação do vírus que já matou mais de 55 mil mineiros.
A reportagem do Estado de Minas negociou um desses documentos por R$ 20. Ele é vendido ao longo da Avenida Antônio Abraão Caram entre o Mineirinho e os restaurantes após o Mineirão. Vários grupos ao longo desse passeio ofertam ingressos e testes negativos.
Os ingressos custam R$ 100 a R$ 150. Apenas o teste sai a R$ 20. O "combo" ingresso e teste faz com que o exame falso tenha desconto de 50% e custe R$ 10.
O teste vendido é tão facilmente detectável como se tratando de uma fraude que a data de nascimento do paciente é 19 de janeiro de 2018, o que enseja um paciente de 4 anos, sendo que os ingressos estão com adultos. O tipo de amostra diz se tratar de swab nasal, constando um lote e uma validade que seria de mais de um ano, algo grosseiramente atestado, já que um teste não garante mais de três dias.
A clínica e a médica responsável existem e estão ativas nas devidas agências controladoras, mas todas as demais informações são cópias sendo vendidas e que passam pela falta de conferência.
Um dos vendedores que ofertou o laudo para reportagem disse estar faturando mais com os atestados falsos do que propriamente com a venda de ingressos para quem chega ao Mineirão sem tíquetes.
"Rapaz, tô ganhando mais com quem esquece o cartão de vacinação ou não tomou vacina do que ralando no sol para vender ingresso até os portões fecharem", disse um dos muitos vendedores que comercializam os laudos recostado nas paredes dos restaurantes da Avenida Antônio Abraão Caram.
Algumas pessoas que compravam os laudos falsos ainda davam um jeitinho de reaproveitar o exame. Grupos de amigos adquiriam apenas um e, cada vez que uma pessoa entrava no Mineirão, se dirigia ao avarandado sobre a Abraão Caram e jogava o papel, para que os amigos pudessem pegar e usar o mesmo laudo para entrar.
Cambistas não faltavam, povoando os quarteirões que cercam o Mineirão sem ser importunados pelas forças de segurança. Alguns deles buscavam se destacar entre os demais usando cartazes erguidos sobre suas cabeças ofertando o número de ingressos que tinham, o setor de arquibancada ao qual pertenciam e as formas de pagamento, assim como o valor – além do dinheiro vivo, alguns aceitavam PIX. Os valores variavam de R$100 a R$150.
O que diz a PBH
A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), por meio da Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), informa que a exigência do teste negativo é um dos critérios para a liberação do público nos estádios. Conforme consta no protocolo, não é autorizada a entrada de torcedores sem a entrega do resultado negativo para a COVID-19 em teste dos tipos RT-PCR ou Teste Rápido de Antígeno realizados até 72 horas antes do jogo. Outra opção é a apresentação de comprovante de vacinação da segunda dose ou de dose única da vacina contra a doença.
"É importante considerar que a falsificação de testes é crime e deve ser investigada pelos órgãos competentes. O retorno do público aos estádios foi feito de forma gradual. Foi elaborado um protocolo com medidas sanitárias que evitem a disseminação do coronavírus para garantir a segurança dos torcedores e trabalhadores. É imprescindível que todas as orientações sejam seguidas. As regras para funcionamento dos jogos de futebol profissional estão disponibilizadas no portal da Prefeitura", informou a PBH.
A administração do Mineirão informou que cabe a ela apenas receber as pessoas com laudo que deve ser impresso e ingressos, mas que não cabe a conferência, indicando que isso deveria ser realizado pela PBH ou pelo clube mandante.
Por meio da assessoria de imprensa, o Atlético afirmou que "a responsabilidade por determinar se os exames de COVID-19 negativos exigidos pela legislação são condizentes é da PBH".