Queiroz é alvo de investigações e acusações quando esteve à frente da diretoria de Logística do Ministério da Saúde, em 2018, no governo Michel Temer (MDB), pelo suposto favorecimento a uma das empresas sob foco na CPI da Covid, a Global Gestão em Saúde.
Nesta quinta-feira (7), a reportagem da Folha de S.Paulo informou ao Ministério do Desenvolvimento Regional que os sigilos bancário e fiscal de Queiroz haviam sido quebrados pela Polícia Federal e um dos endereços dele no Recife havia sido alvo de medida de busca e apreensão no dia 21 de setembro, no âmbito da Operação Pés de Barro da Polícia Federal.
A Folha de S.Paulo também pediu um posicionamento do ministro Rogério Marinho sobre a manutenção de Queiroz no posto mesmo com as suspeitas levantadas pela PF e pela Procuradoria.
Em nota enviada ao jornal na tarde desta sexta-feira (8), o ministério informou a saída de Queiroz, ressaltando que as investigações recaem sobre período anterior à posse dele na pasta.
"O Ministério do Desenvolvimento Regional informa que o senhor Tiago Pontes Queiroz apresentou, nesta sexta-feira (08/10), seu pedido de desligamento da função de Secretário Nacional de Mobilidade e Desenvolvimento Regional para fazer sua defesa nas investigações citadas pela reportagem. O MDR ressalta ainda que os fatos sob investigação são todos anteriores ao período em que o senhor Tiago Queiroz desempenhou a função de secretário nesta Pasta", segundo a nota.
O advogado se tornou o símbolo do "toma lá, da cá" entre o governo Bolsonaro e o centrão e conseguia manter um cargo de alto escalão mesmo após passar a ser suspeito de corrupção e fraude em contratos do Ministério da Saúde.
O advogado foi colocado no ministério quando Bolsonaro começou a distribuir cargos ao centrão em 2020 em uma ofensiva para isolar o então presidente da Câmara Rodrigo Maia. Nesses cargos, os indicados tinham acesso à estrutura e a recursos do governo federal.
Antes, transitou em diversos cargos no governo federal. Foi Gerente Regional I de Administração e Finanças da CBTU Recife em 2015 e 2016, durante o governo da petista Dilma Rousseff.
No governo Michel Temer (MDB), Tiago Queiroz passou a trabalhar no Ministério da Saúde, a época sob o comando de Ricardo Barros (PP-PR), hoje líder do governo Bolsonaro na Câmara.
Sob Bolsonaro, ele havia sido nomeado em março como chefe da STU (Superintendência de Transportes Urbanos) do Recife, órgão que faz parte da CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos). Dois meses depois, foi alçado ao posto de Secretário de Mobilidade e Desenvolvimento Regional.
Nesse caso, sua indicação foi atribuída não só ao PP de Barros, mas também ao Republicanos.
Procurado pela Folha de S.Paulo, Queiroz afirmou: "estou pronto para esclarecer em juízo que não cometi qualquer ato ilícito por tratar-se de compras e pagamentos de medicamentos para processos judiciais através de aquisições no período de 2016 e 2017, que eu sequer estava nomeado no cargo competente para tal (fui nomeado em 2018). É preciso que todos os fatos sejam analisados à luz da legalidade e em lugar oportuno".
Em nota enviada por sua defesa, a Global alegou que "neste caso específico da ação de improbidade, houve uma batalha judicial dificílima e intensa que incluíam a Anvisa e fornecedores. Chegou a haver ordem judicial de prisão contra o Presidente da Anvisa. A Global, inclusive, já foi excluída de outra ação de improbidade sobre este tema, dada a severa judicialização do assunto. Esse conjunto de circunstâncias tornou impossível a entrega da totalidade dos medicamentos".
"Atualmente, a Global é credora de dezenas de milhões de reais de órgãos e entidades da administração pública, por contratos cumpridos e não pagos. Além de credora, a Global é também devedora da União, neste caso específico. O valor errado está inscrito em dívida ativa e já nos manifestamos, há mais de um ano e por diversas vezes, solicitando que se abatam os valores devolvidos ao erário e os medicamentos entregues", completa a nota.