Que tal conhecermos um pouco acerca de um país onde não há mordomias – lá os políticos são eleitos para servir e não para serem servidos. Acredito que muitos já sabem de que país estamos a falar - é a Suécia, mas ela não é o único, existem outros que, apesar de não serem “uma Suécia” estão longe de serem “um Brasil”!
Só quem já morou em países como a Dinamarca, Nova Zelândia, Suécia, Noruega, Cingapura, Finlândia sabe o que é viver sem “ver” a corrupção, além de serem considerados limpos e organizados. Estocolmo na Suécia, por exemplo, é famosa também por sua limpeza; a Alemanha, que além de não ter fama de corrupta é tão limpa que dá gosto (aqui comprovei “in loco”).
Os países citados como menos corruptos do mundo não tem apenas essa qualidade, são, na maioria das vezes, mais pacíficos, limpos e organizados que os outros. Mais um exemplo a citar é a Dinamarca e a Suécia que reúnem vários quesitos favoráveis para se viver como se fosse “num paraíso”.
Abaixo, citaremos uma reportagem acerca do assunto do título deste artigo, que me pareceu bastante interessante a nós brasileiros e principalmente ao políticos “cara de pau” que temos administrando esse país – apenas reflexo de um povo que só pensa em se dar bem em tudo!
A Reportagem
A crise que vive o Brasil obrigou o governo federal a publicar nesta quarta-feira (18) um pacote anticorrupção em meio à deterioração da imagem da Presidente. Mas será que existe um modelo de classe política para inspirar o País nesse momento tão conturbado?
No livro Um país sem excelências e mordomias, a jornalista brasileira Claudia Wallin narra sua descoberta do país em que políticos não têm imunidade e são julgados pela Justiça comum e onde parlamentares dividem assessores e até o gabinete de trabalho: a Suécia.
“É preciso dizer que é um relato de não ficção”, afirma Claudia, em entrevista ao R7, descrevendo sua surpresa ao descobrir as diferenças entre os políticos dos dois países.
Moradora da Suécia há mais de 11 anos, ela diz que há um sentimento de “igualdade” no país que faz com que os políticos não sejam vistos como “pessoas de uma classe superior”.
— Um parlamentar ganha aqui quase 50% a mais, em valores líquidos, do que ganha um professor.
Nesse caso, a diferença para o Brasil é gritante: enquanto o salário-base de um professor aqui é de R$ 1.697, o de um parlamentar é de R$ 33,7 mil (1.885% a mais).
Hoje a Suécia está em quarto lugar no ranking da Transparência Internacional, lista que mede o nível de corrupção nos países — o Brasil ocupa a 69ª posição.
Mas Claudia lembra que nem foi sempre assim e que o país teve de realizar um “aperfeiçoamento gradual da democracia”.
— Além de fazer investimentos maciços em educação e pesquisa, além de ter criado a primeira lei da transparência do mundo, é um país que também promoveu reformas abrangentes, como a reforma política, reforma administrativa, reforma da educação.
A seguir os melhores trechos da entrevista
R7: O que chamou a sua atenção nos políticos da Suécia que te levou a escrever o livro?
Claudia Wallin: Quando comecei a morar no país, há 11 anos, fazendo compras no supermercado, vi o [ex-primeiro-ministro] Carl Bildt com um carrinho de compras ao meu lado. Achei aquilo muito estranho. Depois eu vi o presidente do parlamento no metrô e o prefeito na fila do ônibus. Comecei a conversar com pessoas e a perguntar que cultura política era aquela. (...) Quanto mais eu pesquisava, mais eu descobria, até chegar à conclusão de que realmente é uma cultura política bastante diferenciada, a começar pelo fato de que aqui um político não é considerado um cidadão mais ilustre do que a média. O político sueco é um cidadão normal e que não tem, portanto, direito a regalias e privilégios pagos com dinheiro dos impostos dos demais cidadãos. Isso está muito claro.
R7: E a população entende isso?
Claudia: Tem uma consciência muito clara aqui na Suécia de que político é eleito para servir, e não para ser servido. Uma cultura de total ausência de privilégios. Políticos suecos vão de ônibus para o trabalho. Eles moram nesses apartamentos funcionais que chegam a ter 18 m², que são verdadeiras quitinetes.
R7: De onde vem essa cultura?
Claudia: É um conjunto de coisas. Por exemplo, a educação. O grau de escolaridade de uma população torna o cidadão muito mais consciente e, portanto, mais exigente em relação a seus políticos. Mas tem um outro fator importante que é a cultura de igualdade que existe na Suécia e na Escandinávia em geral. Existe um valor fundamental que é a igualdade entre as pessoas. Ou seja, ninguém é melhor do que o vizinho do lado.
R7: Mas isso não começou recentemente.
Claudia: Não, isso é uma tradição forte que tem origem no extremo nível de participação popular na política. Desde a Idade Média, na Suécia, você tem participação popular no parlamento. Camponeses tinham representação política no parlamento ao lado do clero e da nobreza. (...) Todo esse conjunto de coisas, a educação, essa tradição de igualdade, é o que define esse perfil político na Suécia. Ser político aqui não dá nenhum status especial ao cidadão. Isso é um grande diferencial ao que a gente vê no Brasil, onde os políticos são reverenciados, tratados com gestos de reverência. Para a gente [brasileiros] isso pode parecer uma coisa normal, mas é a hora de se perguntar “por quê?”.
R7: Eles têm noção de que são muito diferentes?
Claudia: Em relação a privilégios, sim, em relação à cultura da transparência, sim. É uma fonte de inspiração, de mudança, não só para o Brasil mas para outros países onde existe a cultura de privilégio. Você olha para França, Itália e a própria Inglaterra e você vê coisas semelhantes [à cultura de privilégios].
Quando eu comentava sobre como é no Brasil, claro que eles têm consciência dessa diferenciação deles, mas eles dizem que, “para nós, conceder privilégios a políticos é um desrespeito ao dinheiro dos contribuintes. É uma afronta”. Então isso é totalmente inaceitável. É uma coisa que não existe [aqui] e nunca vai existir.
A única figura que ainda tem privilégio nessa sociedade é o rei. Essa questão da família real para muita gente pode parecer um paradoxo. Mas a monarquia na Suécia é, na verdade, extremamente popular.
R7: Mas como dizer que é uma sociedade totalmente igualitária se ainda tem a monarquia?
Claudia: Mas tem explicação. A família real é vista como elemento extremamente importante da tradição, da história sueca. E é também uma monarquia extremamente reduzida, que é basicamente a família nuclear do rei. E eles não nadam em dinheiro. Recebem dinheiro, mas nada em nível exorbitante. E também é uma maneira de promover o país, porque o rei e a rainha estão constantemente promovendo os negócios da Suécia. Porque a gente sabe que o glamour da família real vende. Então a família real tem esse papel importante para promover os negócios.
É claro que tem uma minoria que contesta, mas a grande maioria apoia a monarquia. E muito contrário da Inglaterra, onde tabloides se refestelam [sobre a vida da monarquia], aqui é o oposto. Os tabloides não falam mal da monarquia, porque sabem que, se falarem mal, não vão vender jornal.
R7: Você relata no livro o episódio em que o primeiro-ministro Fredrik Reinfeldt dá dicas sobre como fazer trabalho doméstico.
Claudia: Na questão do trabalho doméstico, existiu esse grande debate e ainda existe porque eles realmente prezam essa questão da igualdade. Não querem eleger uma subclasse social na Suécia. É um tema extremamente polêmico, que acabou sendo aprovado. E hoje você tem suecos contratando empregada doméstica, a maioria de 15 em 15 dias, mas é um serviço bastante caro em que você paga por hora. Existe mesmo essa cultura de que cada um tem que cuidar das suas coisas, então isso não é uma questão de demagogia. Quando o primeiro-ministro fala é porque todo mundo faz [serviço doméstico].
R7: O Brasil conseguiria se inspirar nesse modelo político, que poderia contribuir também para o corte de gastos?
Claudia: A democracia sueca forte e transparente não nasceu pronta. Esse aqui também foi um país corrupto. A Suécia também foi um país extremamente desigual, na questão das regalias e de privilégios da nobreza, então eles tiveram que enfrentar os próprios desafios para chegar onde eles chegaram. E como é que se faz isso? Aperfeiçoando as instituições.
Tem um cientista político sueco que diz que houve um “Big Bang” institucional no país. Então a Suécia, além de fazer investimentos maciços em educação e pesquisa, além de ter criado a primeira lei da transparência do mundo, é um país que também promoveu reformas abrangentes, como a reforma política, reforma administrativa, reforma da educação, ou seja, um processo gradual de aperfeiçoamento da democracia.
R7: O que especificamente foi feito na política e na parte administrativa?
Claudia: A reforma política foi um conjunto de ações que promoveu um fortalecimento dos partidos políticos. Aqui os partidos políticos são extremamente fortes. Aí no Brasil as pessoas votam principalmente em nomes e políticos, e os partidos políticos é essa coisa que a gente vê: legendas de aluguel, partidos nanicos, sem programa de governo definido.
Aqui, quando você vota em um partido, você vota em um projeto concreto de governo. Já no Brasil é muito vazio, vago, todo mundo prometendo mais educação, mais saúde, etc. E aqui o debate político é mais centrado em propostas concretas. Aí no Brasil você tem um emaranhado de partidos políticos sem nenhum estofo ideológico, nenhum programa bem definido. Outra coisa que é muito importante e asfaltou esse caminho democrático foi a lei da transparência sueca, a mais antiga do mundo.
Acho muito importante dizer que a proposta desse livro não é endeusar os políticos suecos nem demonizar a política brasileira. O livro mostra uma sociedade possível. É possível construir uma democracia forte, uma democracia transparente que não dá regalias para políticos e onde a corrupção é um fenômeno raro. E a transparência também foi algo essencial. Não é que os suecos sejam melhor que os outros, mas eles instituíram medidas e instituições que promoveram esse aperfeiçoamento da democracia.
R7: O que fez, na prática, a lei de transparência sueca?
Claudia: Todo o sistema sueco, ele torna menos cômodo roubar. Toda a estrutura política sueca é obrigada a operar na luz implacável da transparência. Todo ato político é controlado, desde as despesas pessoais até a forma como o dinheiro dos impostos é usado, tudo é fiscalizado. Os cidadãos e a mídia têm acesso inclusive às declarações de renda dos políticos, incluindo a do primeiro-ministro. Você tem acesso a todos os dados dos políticos. E falando em dinheiro, é importante dizer que sueco não entra na política para ficar rico. Aqui ninguém enriquece no cargo.
Acho importante dizer também que tem havido avanços nesses caminhos do Brasil. Os desafios são muitos, mas o Brasil tem feito reformas relevantes nas instituições, como a própria lei de transparência brasileira (que foi elogiada pela ministra da Justiça sueca). Você tem a Lei da Ficha Limpa que, apesar das imperfeições, é uma lei importante que impede que criminosos se elejam e que foi uma lei aprovada por meio da iniciativa popular, da pressão popular. Tem também a lei anticorrupcao, que espera que vá criar um novo código de conduta moral, um novo código de ética empresarial. Então essas pessoas que saíram das ruas e criaram agendas mais concretas foram pessoas que perceberam que têm sim o poder de transformar o cenário político.
É possível sim termos um país com semelhante modo de vida, basta que nós mesmos nos transformemos em pessoas melhores; os políticos daqui são apenas reflexo de seu povo, de quem os elegeu, de quem faria o mesmo se estive lá. Quando mudarem essa mentalidade vil quiçá teremos alguma semelhança com países que são exemplos para o mundo como a Suécia, Dinamarca, Finlândia.