O mês de setembro traz uma campanha que visa conscientizar a população sobre a importância da doação de órgãos: o setembro verde.
Segundo Daniela Ramos, a pandemia dificultou ainda mais a realização do diagnóstico de morte encefálica (causa que se permite a doação de múltiplos órgãos).
“Afinal, a covid é contraindicação absoluta”, disse. Porém, além da covid, outro fator que dificulta é a família.
"Quando se consegue um diagnóstico de morte encefálica, as famílias não autorizam por desconhecer a vontade do doador em vida”, comentou a coordenadora.
Daniela também ressalta que outra situação é a subnotificação por parte dos hospitais. “Ou seja, no Decreto n°9.175/2017, no seu artigo 18, fala que os hospitais em caráter urgente e obrigatório devem notificar à Central de Transplantes qualquer suspeita de morte encefálica, independente da doação de órgãos”.
A coordenadora também lembra que a “legislação Brasileira só permite que a família autorize a doação de órgãos”. Por este motivo, é importante que ainda em vida, a pessoa diga -- principalmente aos familiares -- de que deseja ser doador de órgãos.
“É preciso se colocar no lugar do outro e pensar que no dia em que morrermos, ainda podemos continuar vivos em outras pessoas que estão nas filas à espera de um órgão”, afirmou Daniela.
A batalha de quem espera
De janeiro a agosto, o estado realizou 39 transplantes. Na fila de espera, 324 pessoas estão aguardando para um transplante de córnea; três de coração; um de fígado e 121 de rins.
Quem está na fila para o transplante de córnea é o trabalhador rural Gustavo Vieira Lima, de 28 anos, que mora em Igreja Nova, em Alagoas. Ele contou ao Cada Minuto que perdeu a visão do olho direito após um acidente de trabalho.
“Eu estava trabalhando quando um besouro venenoso bateu no meu olho provocando irritação e surgindo bactérias que resultaram na perda da minha visão”, contou.
Gustavo disse que está na fila faz quatro meses e que não há previsão de quando irá fazer o transplante. “Quando fui me cadastrar, a moça me disse que era um tempo de até dois anos para receber uma nova córnea”.
O trabalhador disse que o transplante de córnea vai mudar a vida dele.
“Quando eu receber um transplante de córnea vou voltar a viver com mais alegria, perderei a vergonha de olhar nos olhos das pessoas e voltarei a enxergar”, reforçou.
“Esperar nunca foi tão doloroso”
Quem também está na fila de espera por um rim é um alagoano, de 33 anos, que não quis se identificar. Segundo ele, esperar por um rim nunca foi tão doloroso.
“Você fica esperando que seu telefone toque e você seja chamado. É uma angústia”, comentou.
O alagoano disse que se antes da pandemia era difícil, agora ficou ainda pior. “Muitas pessoas morreram por causa da covid e não puderam doar. Muitas famílias não querem ajudar também. E quem fica esperando, fica aguardando a boa vontade das pessoas”.
De acordo com ele, a vida dele nunca mais foi a mesma, mas espera que o transplante aconteça ainda esse ano. “Espero poder levar uma vida normal e saudável”.
E faz um apelo: “Por favor, pensem em quantas vidas vocês vão salvar. Quem morrer continuará vivo. Não existe nada melhor do que fazer o bem”.