Mas resta provado que ele mentiu ao dizer à CPI da Covid que, como “dirigente máximo” do Ministério da Saúde, não negociava com empresas interessadas em vender vacinas ao governo durante a pandemia que já matou mais de 540 mil pessoas.
Palavras dele em seu depoimento à CPI em 19 de maio último já na condição de ex-ministro:
“Eu sou o dirigente máximo, eu sou o decisor. Eu não posso negociar com empresa. Quem negocia com empresa é o nível administrativo, não o ministro”.
Palavras de Pazuello em um vídeo obtido pela CPI a propósito de uma reunião em 11 de março com empresários para a compra da vacina chinesa Coronavc, que, à época, já era fabricada pelo Instituto Butantan, em São Paulo:
“Nós estamos aqui reunidos no Ministério da Saúde, recebendo comitiva liderada pelo John. Uma comitiva que veio tratar da possibilidade de nós comprarmos 30 milhões de doses, numa compra direta com o governo chinês. E já abre também uma nova possibilidade de termos mais doses e mais laboratórios. Vamos tratar na semana que vem. Mas saímos daqui hoje já com memorando de entendimento assinado e com o compromisso do ministério de celebrar, no mais curto prazo, o contrato”.
John e os demais falavam em nome da World Brands, empresa de Santa Catarina. A dose de vacina oferecida a Pazuello iria custar 28 dólares. Dali a meses, com o general fora do ministério, o governo compraria a Coronavac ao Butantan por 10 dólares a dose.
Ainda no vídeo, Pazuello afirma que o encontro terminava com um memorando de entendimento já assinado e o “compromisso” do ministério de fazer o negócio. Fica a pergunta incômoda: por que comprar por 28 dólares o que poderia sair por 10 dólares?
Simples. Porque o presidente Jair Bolsonaro, que antes havia autorizado o general a comprar a Coronavac, depois o desautorizou ao saber que o negócio seria feito com o Butantan, órgão do governo paulista, o que encheria a bola do governador João Doria.
“Quem manda aqui sou eu, o presidente, e não quero essa vacina”, esperneou Bolsonaro. Uma vez desautorizado, Pazuello cometeu a frase que o imortalizou para sempre: “Manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Aí, mais tarde, apareceu John.
O mundo quase desabou na cabeça de Omar Aziz quando ele disse sobre a compra superfaturada da vacina indiana Covaxin que “fazia muitos anos que o Brasil não via membros do lado podre das Forças Armadas envolvidos com falcatrua dentro do governo”.
Em resposta ameaçadora, o ministro da Defesa, general Braga Neto, e os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica sacaram as canetas e assinaram uma nota aprovada por Bolsonaro que terminava assim:
“As Forças Armadas não aceitarão qualquer ataque leviano às Instituições que defendem a democracia e a liberdade do povo brasileiro.”
Se o ataque foi leviano, por que não processaram o senador? É a Justiça quem decide se um ataque foi leviano ou não. A democracia e a liberdade do povo brasileiro são defendidas pela Constituição, não pelas Forças Armadas cujo papel é outro. Qual?
Está na Constituição:
(1) defesa da Pátria;
(2) defesa dos Poderes Constituídos;
(3) e por iniciativa de quaisquer Poderes, garantir a lei e a ordem.
A nota dos chefes militares foi um atentado à livre manifestação de pensamento também assegurada pela Constituição. No exercício do seu mandato, um parlamentar dispõe de imunidade para fazer críticas. Banda podre existe em qualquer instituição.