Em entrevista exclusiva à CNN, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) afirmou que levou pessoalmente ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) "provas contundentes" de irregularidades nas negociações para a compra da vacina Covaxin.
Miranda é irmão de Luis Ricardo Fernandes Miranda, servidor do Ministério da Saúde que, segundo ele, teve conhecimento desses problemas e foi pressionado pela agilidade na assinatura de uma licença de importação do imunizante. O deputado federal conversou com um assessor do Palácio do Planalto por mensagens às quais a CNN teve acesso.
Na troca de mensagens, Miranda pede ao assessor para avisar a Bolsonaro que "está rolando um esquema de corrupção pesado na aquisição das vacinas dentro do Min. da Saúde. Tenho provas e testemunhas."
O deputado disse que o irmão foi cobrado para acelerar a assinatura da nota fiscal das vacinas no dia 19 de março. "Eu disse a ele, Luis, dorme e amanhã vamos ao presidente Bolsonaro, porque não sabemos mais em quem confiar", afirmou.
As conversas com o assessor do Planalto começaram no dia 20 de março – na mesma data Luis Miranda se encontrou com o presidente. "O presidente sabia que tinha crime naquilo", disse o deputado em entrevista à CNN.
De acordo com o parlamentar, Bolsonaro ficou "convencido" e se comprometeu a acionar "imediatamente" a Polícia Federal (PF). Entretanto, Miranda não recebeu retorno sobre o caso após o encontro e continuou as conversas com o secretário-adjunto do Palácio do Planalto.
Ainda durante a entrevista do deputado à CNN, o relator da CPI da Pandemia, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), afirmou que a comissão concedeu segurança ao deputado, seu irmão e familiares devido ao teor das revelações.
"A CPI da Covid estará requisitando segurança para o Deputado Luís Miranda, ao irmão e aos familiares. As informações que o Deputado está declinando à imprensa e que trará a esta CPI, são de extremo interesse público. Sua vida e de sua família precisam estar resguardadas.", escreveu Randolfe nas redes sociais.
Na primeira conversa com o secretário do Palácio do Planalto, que teve o nome preservado, o deputado federal afirma que tem conhecimento das irregularidades na negociação de compra da vacina e que o assessor deve avisar o presidente.
"Não esquece de avisar ao PR [presidente]. Depois não quero ninguém dizendo que eu implodi a república. Já tem PF (...) no caso. Ele precisa saber e se antecipar", escreveu. O assessor, no entanto, responde apenas com um emoji da bandeira do Brasil.
Ainda no dia 20 de março, após o encontro com o presidente, o deputado volta a falar com o assessor do Planalto. Ele encaminha um print de um homem identificado como "Roberto - diretor", que teria perguntado ao seu irmão "como está a LI [licença de importação] da vacina?".
"O diretor cobrando meu irmão a essa hora da noite sobre a LI da vacina. cobrando LI que não tem o que fazer (...)", diz Miranda no áudio exibido durante a entrevista. Segundo ele, a licença de importanção é emitida pela Anvisa e seu irmão era a ligação direta com o órgão para tratativas sobre o tema.
Dois dias depois, Miranda encaminha um documento e um áudio ao assessor e cobra respostas. "Pelo amor de Deus, isso é muito sério", escreve.
Ele ainda pede um posicionamento do presidente para que seu irmão saiba como agir. "Meu irmão quer saber do PR [presidente] como agir."
Em 23 de março, o assessor do Palácio do Planalto passa a responder o deputado. Às 10h44, o parlamentar questiona se Bolsonaro "está chateado comigo". "Algo que eu fiz?", pergunta.
"Só precisamos saber o que fazer me uma situação como essa", continua. O assessor, então, responde: "Bom dia. Negativo, Deputado. São muitas demandas, Vou relembrá-lo."
O parlamentar volta a mandar mensagem ao assessor do presidente no dia seguinte, alertando sobre as datas de validade da vacina Covaxin. "Os caras estão mandando vacina que vem em abril e maio", escreve.
A mensagem vem acompanhada de um print de parte de um documento que detalha os prazos para uso dos imunizantes. "Solicita-se esclarecer se é possível a utilização (...) previamente a data de expiração dos lotes", diz um trecho do arquivo.
Em nota, a Precisa Medicamentos disse que as tratativas com o Ministério da Saúde seguiram todos os caminhos formais e de forma transparente. Sobre o valor da vacina, a empresa afirmou que foi o mesmo cobrado dos governos de outros treze países.