Assim, os defensores da Bluesky e da Mastodon estão correndo para fortalecer a tecnologia por trás dessas plataformas com o objetivo de afastar o controle centralizado dessas plataformas.
Na segunda-feira, 13, um grupo de especialistas e financiadores famosos anunciou planos para uma fundação de interesse público com o objetivo de dar o pontapé inicial no desenvolvimento de novas redes sociais criadas com a mesma tecnologia que alimenta o Bluesky. A campanha, denominada Free Our Feeds (algo como “Liberte nossos feeds”), prevê um “ecossistema inteiro de aplicativos e empresas que têm em mente os interesses das pessoas”. O objetivo é dar aos usuários a capacidade de se movimentar livremente entre serviços, o que poderia incluir alternativas ao Facebook, Instagram, TikTok ou até mesmo o próprio Bluesky.
Entre os apoiadores do grupo estão o fundador da Wikipedia, Jimmy Wales, os atores Mark Ruffalo e Alex Winter, o músico Brian Eno e os autores Cory Doctorow e Shoshana Zuboff. O grupo lançou uma campanha no GoFundMe com uma meta de US$ 4 milhões, mas a ideia é arrecadar US$ 30 milhões. O desafio: o grupo está enfrentando gigantes das redes sociais com receita anual de bilhões - ou centenas de bilhões, no caso da Meta.
O projeto é independente do Bluesky, mas espera cumprir as metas de fundação da rede social.
O Bluesky foi criado em 2019 pelo ex-CEO do Twitter, Jack Dorsey, como uma forma “descentralizada” de rede social, que nenhuma entidade poderia controlar - era uma resposta à pressão que Dorsey estava sentindo na época que estava no conselho corporativo do Twitter, que exigia mais lucros. Posteriormente, o executivo também largou o Bluesky, e a equipe do serviço passou a ser liderada pelo CEO Jay Graber. Até agora, no entanto, ela priorizou o sucesso do aplicativo Bluesky em detrimento do projeto mais amplo de uma rede descentralizada.
O Bluesky foi criada com base em um sistema de software conhecido como “protocolo”, projetado para permitir que outras pessoas criem aplicativos que possam se conectar a ele - da mesma forma que diferentes navegadores podem acessar os mesmos sites ou diferentes provedores de e-mail acessam os mesmos sistemas de mensagens. Mas o Bluesky é o único aplicativo de destaque que usa o protocolo até o momento. A ideia por trás do Free Our Feeds é transformar o conceito de uma rede descentralizada em realidade, estimulando a criação de outras opções, permitindo que os usuários transfiram seus dados, publicações e seguidores entre diferentes aplicativos.
Os líderes do Bluesky expressaram seu apoio ao projeto na segunda-feira.
“Estamos empolgados com os esforços, porque para tornar a rede Bluesky realmente a prova de bilionários, deve haver alternativas viáveis disponíveis para os usuários, e eles estão ajudando a tornar isso uma realidade”, disse Emily Liu, porta-voz do Bluesky.
Além disso, o Mastodon anunciou seus próprios planos para se proteger contra o controle centralizado de sua plataforma.
A empresa sediada na Alemanha disse que formará uma organização sem fins lucrativos para assumir a propriedade dos principais ativos, incluindo o nome e os direitos autorais do Mastodon. “O Mastodon não deve ser propriedade ou controlado por um único indivíduo”, diz o post no blog da companhia. Até agora, a empresa tem sido administrada pelo fundador e CEO Eugen Rochko, que em breve “deixará a administração geral do Mastodon” e se concentrará na estratégia de produtos, “onde reside sua paixão original”.
Assim como o Bluesky, o Mastodon foi criado com base em um protocolo de software que outros aplicativos também podem usar, permitindo que os usuários se movimentem entre eles. Mas os dois são executados em protocolos diferentes - o resultado da escolha do Bluesky, logo no início, de criar seu próprio sistema devido a supostas limitações no protocolo da rede rival. Ironicamente, isso significa que as duas redes sociais que estão competindo para construir um futuro em que todas as redes sociais funcionem juntas não funcionam uma com a outra.
O Threads da Meta ofereceu alguns recursos compatíveis com o sistema do Mastodon, mas não com o do Bluesky.
Rochko disse à reportagem que não foi consultado pelo grupo Free Our Feeds e não ficou empolgado com o anúncio.
“Pessoalmente, acho que é uma oportunidade desperdiçada organizar esse enorme esforço com uma meta de arrecadação de fundos de US$ 30 milhões apenas para reconstruir o que já existe e floresce hoje no ActivityPub”, o protocolo que sustenta o Mastodon, disse Rochko. Ele argumentou que o protocolo do Bluesky, chamado Protocolo AT, foi projetado de uma forma que dá ao rival muito controle sobre o sistema como um todo, o que significa que “sempre será uma batalha difícil” torná-lo realmente aberto.
Eli Pariser, codiretor da organização sem fins lucrativos New Public e guardião do projeto Free Our Feeds, disse que apoia os dois projetos, acrescentando que a decisão de usar o protocolo do Bluesky foi pragmática. “Aqui está algo que está realmente funcionando para as pessoas, que também se baseia nessas ideias sobre comunidade e controle de usuários”, disse.
O Bluesky tem mais de 27 milhões de usuários, enquanto o Mastodon informou em novembro que havia ultrapassado 9 milhões. Ambos permanecem muito menores que o Threads e o X, que têm centenas de milhões de usuários.
Ainda assim, especialistas saudaram os dois anúncios como um sinal de progresso.
“Este é um dia monumental para o futuro da rede social, embora possa não parecer óbvio”, disse Anil Dash em publicações no Bluesky e no Mastodon. “Esses dois movimentos juntos colocam os projetos mais confiáveis em uma base sólida para os próximos anos - e estabelecem as plataformas abertas para permitir muita inovação exatamente quando ela é mais necessária.”
Pariser disse que as medidas são oportunas, dadas as recentes mudanças nos gigantes da tecnologia estimuladas pela eleição de Trump.
“Sempre que houver um controle centralizado e singular, haverá [líderes de tecnologia] balançando ao sabor do vento com base no que eles acham que é melhor para eles naquele momento”, disse ele. “Nossos sistemas de mídia social não deveriam depender disso.”