A Polícia Militar prendeu nesta sexta-feira, 6, um dos suspeitos de envolvimento com o assassinato de Antonio Vinicius Lopes Gritzbach. Delator do Primeiro Comando da Capital (PCC), o empresário foi executado com tiros de fuzil no Aeroporto de Guarulhos, Grande São Paulo, no último dia 8.
Marcos Henrique Soares é suspeito de ajudar no transporte e no fornecimento de equipamentos, como celulares, à quadrilha responsável pelo homicídio. Ele foi detido na zona leste da capital com munições de fuzil calibres 556 e 762. Em nota, a defesa de Soares afirmou que ele é inocente. “O jovem tem vida absolutamente imaculada e sem qualquer passagem policial. Nunca foi afeito a armas ou munições, sendo que tais materiais não são de sua propriedade e não estavam em seu poder quando da apreensão”, disse. Segundo a defesa, Soares é bacharel em Direito, tem 22 anos e aguarda a segunda fase do exame de Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
A suspeita da polícia é de que ele ajudou a levar para o aeroporto Kauê Amaral Coelho, que atuou como olheiro para os atiradores no dia do crime. Após a execução, teria ajudado Coelho a fugir para o Rio de Janeiro. Quando Coelho foi expulso do Rio por traficantes de droga que temiam que a presença dele atraísse a polícia para o Complexo do Alemão, Soares também teria ajudado o olheiro a buscar novo esconderijo. A defesa rebate e afirma que “tem diversos meios para provar que isso não é verdade”.
Após ser preso em flagrante por policiais da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), ele foi conduzido para o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Segundo o comandante da Rota, Valmor Racorti, cerca de 30 agentes foram mobilizados para a abordagem, além do uso de drones. Um dos lugares onde estava escondida a munição de fuzil era a caçamba da moto.
A identificação de Kauê Coelho foi possível graças à análise de imagens das câmeras do aeroporto feita pela polícia. As gravações mostram Coelho uma hora antes do pouso do avião em que estava Gritzbach. Pouco antes dos disparos, conforme a polícia, as imagens mostram ele apontando para o delator.
Outro identificado pela polícia é Matheus Augusto de Castro Mota, que emprestou os carros usados no crime e pagou R$ 5 mil para o olheiro. Tanto Mota quanto Coelho tiveram suas prisões decretadas e estão foragidos.
“Temos duas pessoas identificadas, tendo sido decretada a prisão. As diligências estão sendo efetuadas para que possamos capturar essas pessoas”, disse Artur Dian, delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo e membro da força-tarefa que investiga o caso.
A Secretaria da Segurança Pública oferece recompensa de R$ 50 mil para quem tiver informações sobre o paradeiro de mais suspeitos.
Os criminosos estavam em um Gol preto, que foi abandonado em Guarulhos. Depois, usaram um Audi preto na fuga. E, por fim, os dois executores apanharam um ônibus. A reportagem não conseguiu localizar a defesa dos suspeitos.
O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) destacou a prisão em suas redes sociais após ter enfrentado uma crise na segurança pública. O motivo foi uma sequência de casos de violência policial, em que PMs mataram uma criança de quatro anos, um estudante de Medicina e um suspeito de roubo atingido pelas costas em um mercado. Em outra ocorrência, um agente atirou um homem do alto de uma ponte.
Tarcísio reconheceu a necessidade de fazer mudanças na PM e admitiu que estava “errado” ao ter posto em xeque, no passado, a efetividade das câmeras nas fardas dos policiais. Apesar disso, ele manteve à frente da Secretaria da Segurança Pública Guilherme Derrite.
O crime
Gritzbach havia firmado acordo de delação premiada com a promessa de entregar esquemas de lavagem de dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC) e também falou sobre casos de corrupção policial. A delação de Gritzbach teria indicado que havia policiais que manipulavam inquéritos para livrar integrantes do PCC da acusação de crimes, mediante pagamento de propinas. Entre os bandidos, dizia-se que havia um prêmio de R$ 3 milhões pela cabeça do delator.
Conforme as informações preliminares do caso, Gritzbach havia acabado de chegar de viagem com a namorada no dia 8 de novembro e seria recebido no aeroporto pelo filho e um grupo de quatro seguranças, composto por PMs que faziam a proteção do empresário. No caminho para o aeroporto, porém, um dos carros usados por eles teria supostamente apresentado falha mecânica. Três dos seguranças, então, teriam ficado com o veículo. Assim, somente um estava no aeroporto na hora do atentado.
As imagens das câmeras de segurança do Aeroporto Internacional de Guarulhos mostram Gritzbach levando uma mala de rodinhas quando é surpreendido pelos atiradores no setor de desembarque. Ele tenta fugir, é atingido pelos disparos e cai perto da faixa de pedestres. É possível ver outras pessoas correndo por causa do tiroteio.
O ataque ocorreu por volta das 16 horas. O motorista de aplicativo Celso Araújo Sampaio de Novais, que estava no local, levou um tiro nas costas e acabou morrendo no dia seguinte.
Uma das linhas de investigação, que ainda está em fase preliminar, busca entender se os agentes não teriam deixado o policial exposto no aeroporto intencionalmente. Os celulares desses quatro integrantes da escolta e da namorada de Gritzbach foram apreendidos pelo DHPP, de acordo com informações da SSP.
Os policiais militares que pertenciam à equipe de segurança da vítima já prestaram depoimento para a Polícia Civil e também na Corregedoria da PM. Eles foram afastados de suas atividades operacionais durante as investigações e ficarão em expediente administrativo a pedido da Corregedoria. A namorada da vítima também foi ouvida pelos investigadores. As corregedorias das Polícias Civil e Militar apuram a atuação dos agentes.
Jóias foram apreendidas pela polícia após a morte do delator do PCC. Elas tinham certificado de joalherias como Bulgari, Cristovam Joalheria, Vivara e Cartier e estão avaliadas em R$ 1 milhão. Eram anéis, pulseiras, colares e pingentes com pedras em formato de coração.
Gritzbach estava no centro de uma das maiores investigações feitas até hoje sobre a lavagem de dinheiro do PCC em São Paulo, envolvendo os negócios da facção paulista na região do Tatuapé. Sua trajetória está associada à chegada do dinheiro do tráfico internacional de drogas à facção.
O empresário fechou acordo de delação premiada, homologado pela Justiça em abril. As negociações com o Ministério Público Estadual duravam dois anos e ele já havia prestado seis depoimentos. Na delação, falou sobre o envolvimento do PCC, a maior organização criminosa do País, com o futebol e o mercado imobiliário.
Gritzbach já havia sido alvo de um atentado na véspera do Natal de 2023, quando um tiro de fuzil foi disparado contra a janela do apartamento onde morava, no Tatuapé, na zona leste paulistana, mas o autor errou o alvo.