O candidato bolsonarista à prefeitura de Pelotas (RS), Marciano Perondi (PL), atropelou e matou um idoso no dia 25 de junho deste ano, quando dirigia sua caminhonete Land Rover Discovery a caminho de Porto Alegre, para um encontro com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A vítima é Jairo de Oliveira Camargo, 63 anos, que diariamente usava sua bicicleta para ir de casa ao trabalho, há mais de 12 anos. Ele trabalhava na companhia de saneamento de Pelotas, a Sanep, e nunca tinha se envolvido em qualquer acidente de trânsito nesse tempo todo, até Perondi cruzar o seu caminho.
Seu Jairo não morreu na pista da estrada. Foi levado com vida para o hospital, em estado muito grave. Marciano Perondi, que é de Caxias de Sul e disputa sua primeira eleição em Pelotas, não se preocupou em acompanhar o pelotense e sua família.
Na realidade, simplesmente não se preocupou com nada. Ele manteve a agenda com o ex-presidente, seguiu viagem para Porto Alegre, para o encontro com seu capitão. Depois, postou foto sorridente em suas redes sociais, destacando o “grande encontro com Bolsonaro em POA”.
Enquanto seu Jairo seguia entre a vida e a morte de ambulância para o hospital, o candidato seguiu viagem sem esperar a chegada da polícia. Ele só se apresentou a agentes da Polícia Rodoviária Federal em Eldorado do Sul (RS), a cerca de 270 km do local do acidente, sem seu carro.
Treze dias depois, em 8 de julho, o pelotense faleceu no hospital, após passar nove dias em coma. A Polícia Civil do Rio Grande do Sul investiga Perondi pela morte do operário. O caso é apurado pela 3ª Delegacia de Polícia de Pelotas.
Nada disso abalou Perondi, que permaneceu em campanha. Buscando se esquivar de uma possível indenização à família de Jairo, também resolveu pressioná-los. Tal pressão está registrada em uma ação movida pela viúva de Jairo, por sua filha, por seu irmão e por sua irmã contra o candidato. O processo foi aberto no dia 27 de julho. Tramita da 5ª Vara Cível de Pelotas.
Na Justiça, a defesa dos familiares conta que, ainda no período de luto e dor dos entes de Jairo, “o réu [Marciano Perondi] começou a procurar os familiares de forma ostensiva, oferecendo auxílio mínimo na tentativa de persuadi-los a não buscar a responsabilidade civil [ou seja, não buscar a Justiça em busca de uma indenização pela perda].”
Veja trecho abaixo.
Perondi foi atrás de dona Giselda, a viúva, para falar da morte de seu marido. Sem ser convidado, esteve com ela e dois irmãos de seu Jairo na casa de um deles, Carlos Alberto. O idoso ficou muito irritado com a conduta de Perondi, que tratava a situação como um problema a ser resolvido para que a sua estrada à Prefeitura de Pelotas não fosse interditada pela família do ciclista morto.
Na ocasião, o irmão do morto tentou partir pra cima do candidato, foi contido pelos familiares, chorou, gritou, perdeu o ar, passou mal, precisou sentar. Marciano Perondi foi embora e continuou em campanha.
Após o ocorrido, Carlos Alberto “sucumbiu ao desânimo e ostracismo”, narra a ação judicial. Em 19 de julho, onze dias após a morte do irmão, ele enviou uma mensagem de áudio à família falando em suicídio. Foi encontrado morto na Praia do Laranjal, no dia 23 de julho.
A defesa da família de Jairo calculou seu pedido de compensação baseado no salário do operário na Sanep. Eram R$ 2.382,54 para sustentar ele e Giselda, que agora vive com um salário mínimo (R$ 1.412) pago como Benefício de Prestação Continuada (BPC). Tem direito a BPC idosos de baixa renda ou pessoas com deficiência que não podem trabalhar.
“Giselda da Costa Eisfeld era dependente econômica do de cujus, Jairo de Oliveira Camargo, que complementava a renda familiar com seu salário de colaborador estatutário da Sanep. A dependência econômica de Giselda passou pelo criterioso crivo do INSS, sendo ela beneficiária do BPC/LOAS no valor de apenas um salário mínimo, o que reforça a presunção de dependência econômica”, diz a ação movida em nome de Giselda.
Também é reivindicado no processo uma indenização por danos morais à família pela morte de Jairo e também de seu irmão Carlos Alberto.
“A morte de Jairo e a subsequente perda de Carlos Alberto não apenas abalaram profundamente a estrutura familiar, mas também intensificaram o sofrimento e a dor moral dos autores, que foram gravemente afetados por esses eventos devastadores”, argumenta a defesa. “Diante deste cenário, a busca por reparação não se restringe a um simples pedido judicial, mas a um clamor por justiça, visando restaurar, ainda que parcialmente, a dignidade e o equilíbrio emocional abalados pelas perdas sofridas.”
Pela morte dos dois irmãos, a família cobra Perondi na Justiça uma indenização de R$ 1.079.326,24. É menos do que a quantia arrecada pelo bolsonarista em sua campanha até agora, que já supera os R$ 1,2 milhão, mas é muito mais do que o candidato ofereceu à família “espontaneamente”, na casa da viúva da vítima.
O candidato, aliás, foi de carro realizar a tal visita. Escolheu não ir com a sua Land Rover Discovery, talvez para não gerar lembranças ruins. Ele foi com sua Mercedez GLA 200, devidamente declarada à Justiça Eleitoral (junto com sua Land Rover). Veja abaixo uma foto do referido modelo da marca de luxo alemã.