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26/07/2024 às 20h56min - Atualizada em 26/07/2024 às 20h56min

Nova vítima da bolha incel: "Objetivo deles é que o alvo suma da internet ou tire a própria vida"

Jovem que nunca foi influenciadora e usava a internet de forma privada e discreta foi ferozmente atacada pela "bolha da resenha", perdeu emprego e precisou 'desaparecer'

Por Redação
https://revistaforum.com.br
Basta de violência contra a mulher - imagem ilustrativa. Créditos: Paulo H. Carvalho/Agência Brasília
Na última quinta-feira (25) a Revista Fórum revelou o modus operandi da chamada “resenha”, uma bolha incel e neonazista que coordena ataques a perfis de esquerda e faz apologia ao nazismo no X, antigo Twitter. A reportagem ouviu múltiplas vítimas, mas escolheu os relatos de duas delas que considerou pertinentes para explicar a pauta. Agora, publicamos o relato de Teresa (nome fictício), 26 anos, uma nova vítima. A jovem foi perseguida até mesmo fisicamente, em seu local de trabalho, após atrair a atenção do grupo.

Alerta: a reportagem a seguir contém relatos de violência e pode impactar algumas pessoas. A Fórum reproduz por se tratar de interesse jornalístico.Se o leitor tem pensamentos suicidas ou conhece alguém que os tenha, recomendamos procurar o Centro de Valorização da Vida (CVV) através do número 188 (ligação gratuita); CAPS e Unidades Básicas de Saúde (Saúde da Família, Postos e Centros de Saúde); UPA 24H, SAMU 192; Pronto Socorro; Hospitais.

Ela conta que tinha cerca de 7 mil seguidores e revela como começaram os ataques. “Ao contrário da maioria dos alvos que eu vi na reportagem, eu nunca fui comunicadora de esquerda, influenciadora, nem nada do tipo. Sou de esquerda e tal, já falei muito sobre o assunto, mas nunca fui voltada para política. Eu sempre fui de postar bobeira, assim, coisa do meu dia a dia, só. Até o dia que eu fui reclamar lá que o meu porteiro estava me assediando”, contou.
 
Teresa explicou a história. Disse que o porteiro era novo no prédio e não a conhecia, nem o seu trabalho. Um dia, de madrugada, ela retornou de uma festa, com o visual produzido que as baladas exigem. O porteiro então teria pedido o seu telefone, o que ela negou. O homem então acessou o caderno do condomínio e anotou o número de Teresa. “Quanto é a hora?”, perguntou numa mensagem. Revoltada com o assédio, ela desabafou nas redes sociais, e foi assim que uma pessoa anônima se tornou alvo dos ataques de ódio.
“Não expus o porteiro de forma alguma, nenhum dado dele. Só falei que o meu porteiro estava me assediando porque ele pegou meu número no livro do condomínio, meu número pessoal, que eu não divulgo em lugar nenhum e ficou me mandando mensagem. E a partir do momento que eu fiz isso, começaram a falar que eu que eu estava discriminando o porteiro, que eu estava fazendo o cara perder o emprego. Começou assim. Até o momento que começaram a colocar foto minha em sites de prostituição e associar tudo com prostituição. Começaram a invadir as minhas redes sociais. Me fizeram perder o trabalho, me fizeram perder muita coisa. Eles começaram a ligar e aparecer no meu trabalho, então me dispensaram. Eles apareciam fisicamente no teu trabalho”, relata Teresa.
Teresa trabalha com atendimentos em saúde e bem-estar [mantemos o ofício oculto para preservá-la], e explica que quem atua nessa área tem sites para divulgar o trabalho. Algum tempo atrás ela divulgou seu expediente num site. Só que outros sites pegaram suas informações para para incluir em seus próprios cadastros profissional. Então foi relativamente fácil para que a “bolha da resenha” obtivesse seus dados·
“Começaram a me mandar mensagem, perguntando se para a porteiro era mais barato. Começou assim, com brincadeirinha. Depois começou ameaça de estupro, ameaça de morte. Eles mostravam que sabiam onde eu morava, faziam doxxing etc. Era a mesma galera da reportagem. O Felipe Leme, inclusive, ia na minha DM do Instagram. Eu fui falar com ele no Instagram para que parasse com os ataques. Tinha desativado o Twitter porque fiquei apavorada com os ataques. Eram ele e uma tal de Débora que estavam pela frente dos ataques. E aí o Felipe Leme ia na minha DM e falava: ‘Só quero saber se você está bem’, mas eu sentia a ironia, sabe? Então conversei com ele e pedi para ele apagar as publicações. Ele não só não apagou, como foi lá no Twitter para falar que era para as pessoas maneirarem nos ataques porque a gente estava se envolvendo, que a gente estava se conhecendo. Botou no Twitter um print de uma passagem para a minha cidade. Ele não apagou os ataques e ainda deu a entender que a gente estava se envolvendo. Se fazem isso no Twitter, que é aberto, imagine o que não acontece nos servidores privados”, conta a vítima.
Teresa conta que para sair dessa situação aterrorizante, precisou primeiro dar-se conta da gravidade do caso. E mesmo depois disso, quando tentou ir a polícia e procurar advogados, terminou desencorajada por todos os lados.
“Quando eles começaram a ir pessoalmente no meu emprego, tive que parar de trabalhar. E não conseguia retomar mesmo que fosse autônoma. Foi quando agendaram comigo um atendimento. Eu estava lá no meu local esperando e quando a pessoa chegou, ela falou: ‘olha, na verdade eu não quero massagem nenhuma. Eu sou advogado e quero te mostrar o que estão fazendo com você’. E esse advogado, que inclusive é um super mau caráter, estava em site procurando foto íntima minha para ver. Ele mesmo falou que estava procurando foto minha para ver, mas então percebeu que a coisa era muito mais grave e resolveu me alertar”, conta.
E agrega em seguida: “Ele me mostrou todo o doxxing que estavam fazendo comigo, todas as informações que eles tinham e disse que eu deveria ficar preocupada. Fui na delegacia, inclusive ele foi comigo fazer B.O., mas os policiais o tempo todo me desencorajavam a prosseguir. Falavam que não daria em nada. Mas eu fiz o B.O. e citei o nome do Felipe Leme. Só que não fui mais na delegacia porque eles falavam que não ia dar em nada. Depois procurei um advogado, que me indicaram para processar o Felipe, e o advogado falou assim: ‘eu conheço o Felipe, a índole dele não é essa de fazer essas coisas’. Me cobrou caríssimo, já me desencorajando de processar, sabe?”.

Teresa conta que só queria se esquecer de tudo e viver em paz. Passou a ignorar a situação. Uma vez fora das redes, e bloqueando chamadas indesejadas, foi saindo do alvo aos poucos.
“Acho que o melhor é me dar um nome fictício, porque qualquer coisa relacionada a eles, lembrando da minha existência, me apavora. Passei muita dificuldade financeira até me sentir segura de novo para trabalhar e andar na rua. Eu cheguei no ponto de arrumar minha mala para me internar. Quero que ele seja punido de alguma forma pelo que ele fez, mas só de imaginar eles lembrando que eu existo me dá um calafrio. Foi horrível. É um inferno mesmo na vida da pessoa. E ainda mais que para mim a internet não é fonte de renda, eu não sou nada pública. O que eles querem é que a pessoa suma da internet, ou tire a própria vida. Essa é a vitória para eles”, concluiu.
 

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