Lessa citou “oportunidades perdidas”, que atrasaram o crime, preocupação com a repercussão do caso e esperanças de um “direcionamento” nas investigações.
A localização da casa da vereadora e problemas pontuais de agenda, segundo ele, foram fatores que colaboraram para o atraso.
O ex-PM relatou que conseguiu a arma para o crime em setembro de 2017. O assassinato de Marielle e do motorista dela, Anderson Gomes, foi no dia 14 de março de 2018.
O sigilo da delação foi retirado nesta sexta-feira (7) pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.
“A coisa foi se tornando difícil, o tempo foi passando e nada; e algumas oportunidades que foram surgindo, se eu não me engano foi num bar na Praça da Bandeira, num barzinho da… esse dia o MACALÉ [o sargento reformado da Polícia Militar Edmilson Macalé] recebeu uma ligação, mas só que ele estava trabalhando na segurança. Ele fazia segurança de um outra pessoa, então ele não pode ir”, relatou Lessa à Polícia Federal (PF). Macalé foi morto em 2021.
“Então, nessa ocasião, perdeu a oportunidade e teve uma outra que perdeu também, que ele estava indo não sei para onde, ou seja, a coisa estava ficando difícil; quando chegou em dezembro [de 2017], já no final do ano, eu falei que não tinha como, que a gente tinha que mudar a estratégia”.
Lessa é réu confesso por matar Marielle e Anderson.
Na delação, Lessa disse que tentou mudar o esquema do plano, mas encontrou resistências dos irmãos Domingos e Chiquinho Brazão, que teriam apontado a necessidade de respeitar diretrizes estabelecidas pelo delegado Rivaldo Barbosa.
“Isso chamou muita atenção também porque a impressão que ele passa é que o RIVALDO é quase parte integrante do plano inicial, isso ele passa pra gente de uma forma, que ele batia a cabeça de uma forma que ele reverenciava o RIVALDO, era o suporte da operação”, disse Lessa.
Os Brazão e Rivaldo foram denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de serem os mandantes do assassinato de Marielle e Anderson.
Em anotações escritas à mão pelo próprio Lessa, e que foram anexadas ao termo de declarações, o ex-PM disse que haveria uma obediência dos Brazão com as orientações de Rivaldo.
“[Houve] insistente, irreversível e irrevogável exigência de Rivaldo de que ‘em nenhuma hipótese o crime poderia partir da Câmara dos Vereadores’, fato motivador do grande atraso em sua execução, mas seguido à risca pelos irmãos, que demonstraram obediência extrema às suas orientações, o colocando em um patamar tão elevado ou até mesmo superior ao deles, quando afirmaram com veemência que ‘sem o aval dele ninguém faz nada’”.
Então diretor da Divisão de Homicídios, Rivaldo Barbosa assumiu a chefia da Polícia Civil na véspera do assassinato de Marielle e Anderson.
A defesa de Rivaldo nega qualquer relação com o crime e com os irmãos Brazão, que também rejeitam acusações de participação no crime.
Os advogados das partes foram procurados novamente após a divulgação da delação pela CNN. A equipe de Rivaldo disse à analisa Julliana Lopes que vai insistir na anulação da delação.
Direcionamento da investigação
Segundo Lessa, após o crime, os Brazão teriam tranquilizado os envolvidos no esquema por contarem com o apoio do delegado Rivaldo Barbosa em “redirecionar” a investigação.
“A coisa já estava tensa e já tinha saído do controle, e já tinha saído do controle em questões em que sentido, a divulgação estratosférica; ninguém esperava aquilo, então eles demonstraram preocupação máxima, e nós estávamos preocupadíssimos, todo mundo estava preocupado demais”, declarou.
“Então eles tranquilizaram a gente o tempo todo, falaram o tempo todo que o RIVALDO estava vendo, que o RIVALDO já está redirecionando e virando o canhão pra outro lado, que ele teria de qualquer forma que resolver isso, essa questão, que já tinha recebido pra isso no ano passado, no ano anterior, ele foi bem claro com isso”.