Senador Otto Alencar criticou recomendação do "tratamento precoce" sem eficácia contra a covid-19
"Brincou com a vida dos brasileiros", afirmou Otto
Em depoimento à CPI da Covid, Nise Yamaguchi continuou defendendo medicamentos, como cloroquina
O senador Otto Alencar (PSD-BA), que é médico, criticou a recomendação do “tratamento precoce”, sem eficácia contra a covid-19, capitaneado pela oncologista e imunologista Nise Yamaguchi. A médica depõe hoje na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado.
O parlamentar ressaltou que, caso os medicamentos do kit covid sejam prescritos por um médico, o profissional assume o risco, mas ser recomendado pelo Ministério da Saúde “é brincar com a vida dos brasileiros”.
Yamaguchi é defensora do chamado “tratamento precoce” com medicamentos como a cloroquina, droga comprovadamente ineficaz contra a doença. Ela é apontada como uma das principais conselheiras de Bolsonaro, já tendo sido cotada para a assumir a Saúde por duas vezes.
“A senhora maculou sua imagem ao tomar essa iniciativa, queria ser ministra da Saúde e não conseguiu”, afirmou Otto Alencar.
Em sua fala, o senador citou um estudo feito pelo Hospital Albert Einstein que está comprovado que a cloroquina não tem efeito em pacientes com casos leves e moderados de covid-19.
O parlamentar questionou os trabalhos comprovando eficiência de cloroquina e hidroxicloroquina, com registros de exames clínicos e pré-clínicos. Ele perguntou também se a médica sabia a diferença entre um protozoário e um vírus, para recomendar um medicamento contra protozoário, no caso a cloroquina, para uma doença causada por vírus.
“A senhora jamais poderia debater um assunto que não é do seu domínio [o coronavírus], isso não é honesto”.
“Uma arca de Noé conduzindo a ciência no Brasil, mas sem Noé”, disse.
Nise declarou que não é preciso exames pré-clínicos pois cloroquina é uma droga usada há décadas. Mas o senador destacou que os exames servem para acompanhar se houve alguma sequela.
Nise Yamaguchi negou que tenha participado de encontros privados com o presidente Jair Bolsonaro e reiterou a defesa ao chamado tratamento precoce, com medicamentos de ineficácia comprovada contra a covid-19. No entanto, a agenda de Bolsonaro registra pelo menos quatro reuniões com a médica, dos quais três com a presença de outras pessoas, e uma a sós.
“Nessa situação, eu entendia que era importante fazermos a ampliação dos tratamentos de acordo com o julgamento dos médicos. (...) Não estou aqui para defender um governo. Estou aqui para defender o povo brasileiro. Isso é baseado em ciência. Sou colaboradora eventual de qualquer governo que precisar de mim”, disse.
A CPI da Covid ouve nesta terça-feira a oncologista e imunologista Nise Yamaguchi sobre o que tem sido chamado de “gabinete paralelo”, grupo de fora do Ministério da Saúde que teria se reunido no governo e tido voz ativa na tomada de decisões do presidente Jair Bolsonaro para o enfrentamento à pandemia.
O presidente da Anvisa admitiu reunião no Palácio do Planalto para tratar da alteração da bula da cloroquina, com o objetivo de incluir o medicamento no tratamento da covid-19.
A informação de tentativa de alteração da bula foi dada inicialmente pelo ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, na CPI. Mandetta, no entanto, afirmou que a iniciativa foi do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Questionada pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI da Covid, sobre o atraso na aquisição de vacinas contra a covid-19, Nise Yamaguchi afirmou que o problema foi a demora no “início do tratamento” dos pacientes, mesmo que não exista tratamento cientificamente comprovado contra o coronavírus.
“Eu considero que o atraso que existe no inicio do tratamento é o que tem determinado tantos mortos, não só isso, mas temos também um problema de diagnóstico”, disse.