Governadores de estados, senadores e dezenas de deputados subirão ao palco para serem vistos por uma plateia que não pagará ingresso. As despesas correrão por conta de um pastor.
O espetáculo foi apresentado pela primeira vez na Avenida Paulista, no domingo 25 de fevereiro último, e atraiu muita gente, quase toda com a camisa amarela da Seleção Brasil.
O tema central foi “Bolsonaro é inocente”; inocente de todas as acusações que lhe fazem, do golpe que tentou dar ao roubo de joias, além da falsificação de atestados de vacinação.
Desta vez, a respeitar o script, o tema central será a defesa da liberdade de expressão, e o alvo preferencial, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
Na Paulista, aconselhado por amigos, Bolsonaro evitou falar mal de Moraes, que considera seu maior algoz. Em Copacabana, se não lhe faltar coragem, é possível que fale.
Como a plateia é escolhida a dedo e estará ali para aplaudi-lo, diga o que ele disser ou cale, Bolsonaro poderá dar-se ao luxo de ser contraditório, defendendo o que na verdade abomina.
“A liberdade de expressão não é em primeiro lugar a minha, mas a do ‘outro’”, escreve o historiador português José Pacheco Pereira, ex-embaixador da Unesco.
Vai me dizer que Bolsonaro pensa assim? Pode pensar assim quem sempre defendeu a tortura e a ditadura militar de 64, que suprimiu a democracia por 21 anos a pretexto de salvá-la?
Se o golpe tentado por Bolsonaro tivesse dado certo, não haveria mais democracia nem liberdade de imprensa e de expressão; a de expressão seria restrita aos que o apoiassem.
Para Bolsonaro, o Brasil “está perto de uma ditadura”. A expressão foi usada por ele ao convocar seus seguidores para ouvi-lo em Copacabana. Bolsonaro sabe o que é uma ditadura.
E sabe que o Brasil está muito longe de ser uma. Mas como esperar que ele fale a verdade, algo que nunca lhe foi ensinado, e se foi, ele não aprendeu porque não quis?
A liberdade de expressão “do outro” é o que mais o incomoda, e o que em grande parte removeu-o do poder. Liberdade de expressão para ele é liberdade para manipular os fatos.
É o que fará em Copacabana e em qualquer outro lugar.