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14/04/2024 às 18h47min - Atualizada em 14/04/2024 às 18h47min

SAÚDE MENTAL: Surtos e suicídios de militares preocupam Comando da PM/AL

Comandante-geral da Polícia Militar de Alagoas, coronel Paulo Amorim, diz que saúde da corporação é prioridade

Regina Carvalho
https://www.gazetaweb.com
Surtos e suicídios de militares preocupam Comando da PM/AL | Foto: Assessoria

Uma sucessão de ocorrências com policiais militares nas últimas semanas acendeu alerta sobre a suspeita de adoecimento da tropa. Transtornos mentais que afetam a população de forma geral atingiram integrantes da segurança pública de Alagoas, situação que preocupa o Comando-geral da PM, que defende atenção redobrada com a saúde desses profissionais que têm a missão de garantir a segurança dos cidadãos.

Segundo o comandante-geral da Polícia Militar de Alagoas, coronel PM Paulo Amorim, a saúde da corporação é prioridade para o comando-geral. “Se o nosso policial vai bem, a sociedade também ficará bem. A saúde plena do nosso policial é nossa prioridade, seja mental ou fisiológica”, destaca Paulo Amorim.

Sobre as últimas ocorrências que envolveram policiais militares (um PM matou o próprio colega de farda e depois se matou em Arapiraca e o outro descarregou a arma da corporação sem nenhum motivo em Delmiro Gouveia), o comandante-geral acredita se tratar de casos pontuais, mas que é preciso uma análise mais detalhada dessas situações. Ou seja, um especialista da área que possa falar com mais embasamento sobre o que ocorreu com esses profissionais.

Os casos

Em fevereiro deste ano, policiais militares estavam numa ocorrência em Jacuípe quando foram informados que um homem apresentava transtornos mentais e estava ferido na zona rural do município. Ao chegarem ao local, os policiais encontraram a vítima de 49 anos em surto psicótico. Tratava-se de um PM que atua em Pernambuco, mas mora em Alagoas.

Em março, também de 2024, um policial militar diagnosticado com câncer, Emanuel Fonseca, 33 anos, se matou em Maceió. Em postagem nas redes sociais, a vítima se despediu de parentes e amigos.

Em abril deste ano, o estudante de Direito e soldado da PM Eudson Felipe Cavalcante Moura, 24 anos, foi morto a tiros pelo próprio colega de farda, Moisés da Silva Santos, 31 anos, quando tentava impedir que o amigo agredisse a esposa. O caso aconteceu em Arapiraca. Moisés ainda atirou contra a ex-mulher e depois se matou.

Também em abril, o policial militar Elisvan Figueira teve um surto durante o serviço e descarregou as munições de uma arma, em via pública, assustando outros militares que estavam na viatura. O caso ocorreu em Delmiro Gouveia, quando os militares estavam trabalhando. Ele foi preso em flagrante.

PMs precisam ser cuidados, diz associação

PMs precisam ser cuidados, diz associação

PMs precisam ser cuidados, diz associação | Foto: Assessoria

PMs precisam ser cuidados, diz associação

Após o relato de surtos e suicídios de policiais militares, o sargento PM José Erionaldo, presidente da Associação dos Militares do Estado de Alagoas (AMEAL), disse que o momento para a tropa é delicado. Acontece que, segundo ele, muitos policiais passam a receber ajuda somente quando já estão doentes. E aí pode ser tarde demais.

“Sobre a saúde mental dos militares, principalmente da PM, pelo perfil de ocorrência que o pessoal atende a gente tem a preocupação em melhorar e avançar com o tratamento mental. O militar precisa ter sim uma saúde mental e o Estado é o principal responsável. Temos acompanhado alguns suicídios na corporação, alguns surtos e isso nos preocupa. É claro que isso é fruto do dia a dia”, destaca o presidente da entidade.

“Hoje, infelizmente, a polícia tem um setor de assistência social que já recebe o militar com o problema. Precisamos tratar a tropa para que ela não tenha essa recorrência. É preciso tratar do problema pois, em algum lugar e em algum momento, foi originado esse problema. Então, assim, a gente precisa ter mais cuidado com a tropa. É uma profissão que requer um tratamento e um acompanhamento psicológico contínuo”, acrescenta o presidente da Ameal.

Na avaliação de José Erionaldo, é preciso ter mais regras no contexto de ingresso e aprimorar a avaliação psicotécnica dos alunos, dos novos militares que estão ingressando na PM. Enfim, ter um acompanhamento anual sobre a saúde mental.

Saúde é prioridade

O comando-geral da PM informou à Gazeta que a questão de saúde é uma prioridade do secretário de Segurança Flavio Saraiva e do comandante-geral Paulo Amorim. "Expressão disso foi a inclusão da avaliação psicológica como etapa eliminatória no concurso público para ingresso na corporação e a institucionalização da avaliação periódica de saúde, que buscam um cuidado continuado com a saúde, através da realização de exames cardíacos, avaliação das taxas metabólicas e realização de testes físicos", informou a PM.

Além disso, de acordo com a PM, o secretário Flavio Saraiva e o comandante-geral Paulo Amorim já solicitaram a realização de concurso público para preenchimento das vagas dos Oficiais de saúde e especialistas, com objetivo de ampliar e fortalecer a assistência ofertada pela corporação.

Rotina gera tensão, afirma psiquiatra

O psiquiatra Audenis Peixoto diz que no estudo da psicopatologia algumas profissões são mais expostas aos "estressores ambientais" que servem como gatilho ou como reforço para o surgimento ou agravamento de problemas emocionais e até transtornos mentais.

“Os policiais estão entre estas profissões pela exposição constante ao risco de enfrentamento, ao perigo na defesa da sociedade, pela cobrança constante de resultados positivos em suas ações, pela sobrecarga de horas trabalhadas, noites insones, entre outras possíveis justificativas. Presenciam constantemente cenas criminosas, de violência, agressividade, assaltos, ameaças, tiroteios, homicídios”, destaca o psiquiatra.

Segundo Peixoto, a rotina gera muita tensão, estresse, ativação de neurotransmissores e de áreas cerebrais, que podem abrir espaço para o desenvolvimento do desequilíbrio, principalmente em pessoas que já tenham predisposição, antecedentes familiares, problemas afetivos, financeiros, psicossociais, uso mais abusivo de álcool, substâncias ilícitas ou qualquer outro fator de risco que venha contribuir para desgaste físico, emocional e mental.

“Foram os veteranos de guerra, os primeiros indivíduos estudados com transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Muitos casos de transtornos de ansiedade e de depressão também são encontrados entre policiais, notadamente os que lidam diretamente com a população, em atividades externas, no enfrentamento de crimes”, explica Audenis Peixoto.

O psiquiatra ressalta que vale lembrar que os transtornos mentais têm aumentado muito em todas as classes profissionais, sociais e econômicas. “É extrema a necessidade desse entendimento de nossas autoridades, para que mecanismos de prevenção sejam ofertados aos policiais e a toda população. E que cada um faça sua parte, buscando estilo de vida mais saudável, tanto do ponto de vista alimentar, de atividades físicas, na qualidade do sono, no controle dos hábitos de vida. Quem sabe assim, tenhamos menos tragédias”, finaliza.


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