Alessandro Moretti, número dois da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), foi demitido pelo governo federal após a Polícia Federal apontar que a atual gestão tem prejudicado as investigações sobre o esquema de espionagem ilegal da agência. Marco Cepik, atual comandante da Escola de Inteligência do órgão, vai substitui-lo.
Na avaliação de membros de Executivo, apesar de não existir uma denúncia concreta contra Moretti, houve um processo de desgaste com o governo e existe uma desconfiança sobre sua relação com o ex-ministro da Justiça Anderson Torres.
Segundo a PF, há um possível “conluio” entre os investigados da gestão anterior e os integrantes da agência atualmente. A corporação avalia que essa interferência “causou prejuízo para a presente investigação, para os investigados e para a própria instituição”.
“A preocupação de ‘exposição de documentos’ para segurança das operações de ‘inteligência’, em verdade, é o temor da progressão das investigações com a exposição das verdadeiras ações praticadas na estrutura paralela, anteriormente, existente na Abin”, diz relatório da PF enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Moretti ocupava o posto desde março de 2023. Ele é delegado da Polícia Federal e assumiu a inteligência da corporação em março de 2022, durante o governo Bolsonaro. Antes, já havia atuado como secretário-executivo da Secretaria da Segurança Pública do Distrito Federal entre 2019 e 2021, na gestão de Anderson Torres.
O governo vai fazer uma ampla reestruturação na Abin. Além de Moretti, diretores de sete departamentos também serão substituídos. O próximo número dois da agência, Cepik, é cientista político e já foi diretor-executivo do Centro de Estudos Internacionais sobre Governo (CEGOV) em Porto Alegre (RS).